Todo homem deseja conquistar o direito de tocar os sonhos de uma mulher. Mas que bobos os homens somos, pois intocáveis os sonhos continuam. As mulheres os têm em segredo absoluto. Podem falar, contar, revelar. Mas a sua essência é tão secreta quanto as fórmulas mágicas de seus olhares.
Inexpugnáveis sonhos dos jardins da feminilidade. Humildes, talvez possamos oferecer o ombro e, eventualmente, cantar. Delicados, quem sabe possamos acariciar seus cabelos com a mão tranquila do coadjuvante. Alguns privilegiados lhes tocam os corações. Mas seus sonhos, ora, seus sonhos são intocáveis.
Femininamente remotos, sonhos de mulher são estrelas que só aos lunáticos cabe enxergar. Afinal, ninguém confia neles! E os sonhos "fêmeos", esses roteiros do inimaginável, continuarão ocultos pela ilusória sinfonia do Sol. Calados, temos que ceder à impotência total. Homens não tocam os sonhos das mulheres.
Não, não conseguimos. Eu já tentei de tantas formas e com muitas mulheres. Não vinguei. Você já deve ter tentado, como tantos amigos o fizeram em vão. Homens, medíocres homens, continuamos a medir a capacidade de amar com réguas de escola. E perdemos um tempo enorme buscando compreender o que só tem sentido no plano do incompreensível.
Sonhos femininos são como pedidos à s fontes dos desejos. Se revelados, não acontecem. E uma mulher sem sonhos, porque os teve aventados por alguém, é uma flor que não nasce. Sonhos femininos tocados pelos homem fenecem. Por isso não podemos tocá-los. Uma flor ou uma mulher que não nascem, não florescem, não sonham. Mulheres sem sonhos não existem, feito promessas falsas de flores.
Confesso a frustração, é claro! Curioso, gostaria de entender esse lugar. Entretanto, só me cabe a capitulação. Eu me rendo. De braços abertos e coração despido, sorrio o sorriso de um bom adversário caído. Posso dominar a suavidade dos gestos, conhecer os encantos dos cheiros e dominar a arte do tocar. Mas não saberei jamais o que é esse sonhar.
Não, esse enigma cabe apenas à s mulheres. As mulheres e seus sonhos não pertencem aos homens, não pertencem a ninguém. São patrimónios do imponderável, são patrimónios da poesia que um dia ainda vamos saber recitar.
Maurício Cintrão
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