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Cronicas-->Da Morena aos Deuses -- 09/05/2001 - 02:15 (Abilio Terra Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Lá estava ela, uma morena bem brasileira. Ele a olhava, de vez em quando, de soslaio, quando o rapaz da outra mesa o permitia, em seus movimentos, conversando entusiasmado com uma mocinha tão nova quanto ele. Pensava, entre um e outro copo de cerveja, em tanta coisa... e não pensava em nada... as vezes, sentia-se tão antigo quanto um dinossauro... e, porventura, não teria sido um dinossauro?
Começamos lá do fervedouro dos oceanos primevos, as primeiras moléculas... mas, falando sério, sentia-se não um dinossauro, mas um ser "primitivo", não um "bronco", mas um "original", antes das "camadas de civilizações", que consigo trouxeram não apenas cultura, mas, igualmente, complexos, traumas, hipocrisias, e tanto mais!
Voltava, voltava, voltava no tempo - o ambiente mudava: tornava-se lúgubre, sombrio, indistinto. Ele, só, pendente no tempo e no espaço. Não conseguia discernir como era, mas sentia-se moreno, barbudo e forte. Impregnado da natureza, sentia o cheiro das árvores, matos, flores, e dos animais, e se sentia muito bem, com tudo isso. Cada movimento, cada pensamento seu, era parte íntima daquele grande todo. Não sentia medo, nem dúvida. A certeza vinha de dentro de si, conjugada com tudo à sua volta.
Via florestas seculares desfilarem ante seu olhar compassivo, e algumas construções se erguiam, de quando em vez, com pedras colossais. Algumas pareciam castelos, outras em formatos misteriosos, talvez templos, planejados em cada centímetro para buscarem de dentro da Terra, ou do espaço cósmico, energias poderosas.
E ele sentia essas energias circulando-o, levando-o em espiral até a proximidade dos deuses - via menires gigantescos, erigidos em imenso círculo, cada um deles tendo em si o traçado de um símbolo. Só de se aproximar, já sentia a força poderosa que emanava daquele conjunto de pedras - lá estavam os deuses, presentes e atuantes nas forças que emitiam à sua alma, frutos das suas sabedorias, conquistadas com tanto sofrimento e abnegação.
Sentia-se mais sábio, mais lúcido. Divisava mundos distantes, povos que nasceram, alcançaram seu apogeu, depois, o declínio, e, ajudaram a formar outros povos, pelos tempos e espaços perenes. Quantos conhecimentos perdidos, quantas mentes brilhantes apagadas, vítimas de perseguições e suplícios. Via corpos, de belos, se distorcerem em dores e espasmos, perdendo suas formas sob torturas hediondas.
Via reis caírem, traídos ou perdidos; sábios abjurarem seus conhecimentos; iluminados cederem às tramas do destino. Sentia-se, no entanto, sólido em si mesmo, apesar de tantas imagens dolorosas. Ele era parte de todo o processo, passara por tudo - vítima e algoz, tirano e sábio, bárbaro e poeta.
A sua vida rolava dentro do grande caudal espiralado, que rompia a noite do universo, e mergulhava no mais sinistro abismo, ou volteava sobre si mesmo e eclodia aos cumes brilhantes dos montes, em que os deuses gozavam em prazer criador.
Retornava, então, ao ambiente do bar, sentindo-se lúcido como um deus pagão -
que ora assumia a forma de uma nuvem, ora de um cisne, para possuir a mulher que tanto desejava. Sentia-se tão distante daquela morena como se deus pagão fosse, hoje, sem seus poderes, perdidos. Teria que se utilizar de outros poderes, mais sutis, para vencer a barreira de tantos universos e penetrar na sensibilidade pragmática e objetiva daquela morena bem brasileira.










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