A internet foi uma das melhores coisas que já me aconteceu. Não sei você e não vou generalizar, dizendo que o que é bom para mim é bom para todos. Essa é uma crónica egoisticamente correta, para começar minha série de brincadeiras com o "politicamente correto" deles. Quem disse que o que é correto para eles é também correto para mim?
Mas eu dizia que a internet era uma coisa boa. Já estou bem familiarizado com ela. Antes eu tinha dúvidas se deveria escrever seu nome com o "i" maiúsculo. Hoje tenho certeza que é assim mesmo, minúsculo, como em "televisão", "rádio" e "jornal". É apenas mais um meio e não merece a pompa de uma inicial maiúscula como já cheguei a acreditar.
A internet serviu, dentre outras coisas, para dar-me a noção exata de quem são os realmente bons e que podem ser chamados de escritores `de verdade´. Mário Prata foi o primeiro a não esconder de ninguém que não era Deus. Para isso até escreveu um romance "ao vivo", libertando o pseudo-escritor que estava dentro de muita gente. Ficou patente, para muitos, que não havia nenhum bicho de sete cabeças na então `sagrada´ tarefa de digitar palavras. Entretanto, há diferenças bem distintas entre um Mário Prata e um João Ubaldo Ribeiro, por exemplo. E a internet veio justamente me mostrar o quê.
Recebo, como muitos que estão lendo essa coluna, cuja circulação, por enquanto, é exclusivamente via `rede´, centenas de e-mails semanais. A grande maioria deletável após as cinco primeiras palavras. Principalmente quando as cinco primeiras palavras são: "Repassando por achar bem legal". No passa e repassa da troca de correspondência eletrónica, acabamos encontrando gênios anónimos, criadores de `gracinhas´ invejáveis. Já recebi e-mails terríveis no que diz respeito à s regras da língua, contendo erros de ortografia como `curço´, mas que em suas essências era possível encontrar pérolas de criatividade. Dava vontade de consertar os absurdos e assinar meu nome embaixo, já que não havia nome de autor mesmo. Mas não. Não me sentiria bem. A sensação de `roubo´ intelectual não me deixaria dormir direito. Mas vejo gente desenrolada e que usa sua coluna semanal - recebendo por isso! - para ser apenas mais um `repassador´ dessas mensagens.
Foi com certa tristeza e desilusão que vi gente como Mário Prata (o mesmo das sacadas geniais como as vidas passadas a limpo e suas mulheres e seus homens ), José Simão, Fritz Utzeri e até mesmo Millór Fernandes usando dessas idéias que são batidas e rebatidas por e-mails mil. Não que eles sejam `ladrões´, pois deixam bem claro que é uma colaboração, ou que foi visto `por aí´, mas não deixa de ser uma forma de descansar um pouco da obrigação de escrever uma coisa inteiramente nova.
Isso serve para engrandecer gente como Ubaldo e Veríssimo, por exemplo. Nunca os vi transpor idéias alheias para suas colunas semanais, sempre tirando do `nada´ o que aparecerá no papel. Veríssimo utilizou-se de obras prontas, certa vez, mas tão bem contextualizado que as velhas piadas se transformaram em mero instrumento para a idéia maior e original. Não causou essa sensação de ser mais um a `repassar´ algo engraçadinho que viu, mas apenas fez uso das piadas velhas, antes aplicadas a portugueses, para aplicá-las aos canadenses, como protesto por causa daquela contenda a respeito da vaca louca. Isso não é o `copiar e colar´ que se vê por aí, mas utilizar-se de algo já existente e dar-lhe um significado completamente novo, com objetivos bem definidos, que vão além de `recontar´ uma história.
Vendo esses artifícios preguiçosos dos colunistas que conquistaram um lugar ao sol, vem-me aquela sensação de `assim-até-eu´ e me tranquilizo. Acho que estou no caminho certo, procurando não repetir, mas dizer algo, se não novo, pelo menos diferente.
Millór, por exemplo, vangloria-se de ter, em seu saite, não-sei-quantos-mil temas e links diferentes. Mas a grande maioria desses milhares são colaborações. Ora, para uma pessoa como ele, famoso, receber muitas dessas idéias é fácil. Não tiro-lhe a genialidade, claro, pois sei que trabalha bastante e sei o quanto é original. Mas aproveita para dar volume ao seu `património´ intelectual, inserindo as gracinhas alheias ao rol de `seus´ links.
Digo tudo isso porque recebi vários e-mails com o tal Hino Nacional parodiado com marcas de produtos. "Ouviram do posto Ipiranga...", e por aí vai, terminando com "Coca-Cola Bombril", em lugar de "pátria amada, Brasil". Depois de uma semana de saco cheio desses e-mails repetidos, Millór o coloca em sua página como novidade e, depois, o José Simão em sua coluna de jornal. Foi uma idéia interessante, mas nada tão enormemente genial assim. A coluna sobre computadores do João Ubaldo Ribeiro do último Domingo, por exemplo, estava muito melhor.
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