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Cronicas-->Gregório, Corrupção, Preconceito -- 31/03/2001 - 02:49 (Abilio Terra Junior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Aplaudo a "cruzada" contra a corrupção endêmica (que já grassava em nossas terras desde distantes tempos), desenvolvida pelo ilustre poeta Gregório de Mattos.

Considero Gregório de Mattos um dos nossos grandes poetas, e tenho lido opiniões semelhantes de diversos estudiosos da nossa literatura.

Entretanto, o brilhante Gregório estava imbuído dos preconceitos inerentes à sua época, como não poderia deixar de ser. Afinal de contas, ele era um homem do seu tempo, em pleno Brasil Colónia, sob a tutela de Portugal, em uma época em que a visão com respeito à raça, religião, costumes, era bem mais preconceituosa do que a dos nossos tempos (que, diga-se de passagem, apesar das aparências em contrário, ainda está eivada de preconceitos, como sabemos muito bem).

Gregório exercia a sua ácida crítica com muita competência, e não poupava instituições, ou corrupções, com o seu verso brilhante, ágil, eloquente. Mas se referia de uma forma bastante deletéria aos pobres coitados dos mulatos e outros mestiços, que, afinal de contas, não eram e nem são os culpados pela nossa histórica corrupção ( a menos que adotemos uma postura de eugenia, o que é risível sob todos os aspectos, não só pela constituição extremamente heterogênea da nossa população, como também porque sabemos hoje, com as últimas descobertas científicas, que a distància que separa as etnias, a nível de DNA, é simplesmente ínfima, e, por outras razões que nós, como cidadãos cultos e lúcidos, estamos bem a par).

Naquela época, do Brasil Colónia, ainda podia-se aceitar tal postura. Afinal de contas, era a visão da Matriz (Portugal) que dominava em nossa incipiente cultura.

Mas, hoje em dia, com a queda sucessiva de todas as barreiras culturais, étnicas, sociais, económicas, essa postura torna-se bastante criticável.

Os princípios da eugenia, tão em moda na Europa de fins do século XIX e início do XX, são hoje obsoletas e em desuso.
A propósito, um dos países nórdicos, hoje entre os mais avançados em civilidade e qualidade de vida, há muitas décadas passadas praticou métodos de expurgo em massa, em nome de uma pretensa eugenia, com eliminação dos deficientes, doentes etc.

No final do finado século XX, o mundo e a civilizada Europa espantaram-se com as atrocidades praticadas por sérvios, bósnios, croatas e vizinhos, cada qual em defesa da "sua superioridade étnica ou religiosa", com requintes de crueldade absurdos, como estupros sistemáticos e em massa, torturas, matanças indiscriminadas de famílias, mulheres, idosos, crianças etc.
Na Irlanda, mata-se há décadas por motivos religiosos e políticos.
Entre israelenses e palestinos, as diferenças étnicas, religiosas, sociais e económicas, levam a periódicas escaladas de violência em um conflito que, a cada dia, parece estar mais longe do seu fim.
Na Alemanha, França, e em outros países, se expandem atualmente os grupos neo-nazistas, de extrema direita, com perseguições e violências contra minorias étnicas, principalmente.

Hoje, notamos que até os padrões de beleza se modificaram, devido à uma miscigenação étnica cada vez mais intensa.

Infelizmente, em nosso país, os padrões culturais colonialistas estão tão impregnados em nosso inconsciente coletivo e individual, que, implicitamente, aceitamos os valores exógenos como de maior importància, em detrimento dos nossos.
Assim, sempre perseguimos os valores étnicos, culturais, económicos, dos europeus e norte-americanos, esquecidos das nossas origens.

Entretanto, o nosso "diferencial" em relação a eles é exatamente a riqueza da nossa heterogeneidade étnica e cultural.
Observem a nossa música, literatura, a flexibilidade (as vezes, em excesso, de fato) com que buscamos soluções para os nossos inúmeros e kafkianos problemas, que atormentam o nosso instável e precário cotidiano.
Diante de um fluxo infindável de nossos recursos naturais (como nossa fauna, flora), económicos e humanos que se esvaem pelas nossas fronteiras, conseguimos, ainda assim, sobreviver, aos trancos e barrancos.
Saímos de casa sem saber se a ela retornaremos, e, no entanto, trabalhamos, estudamos, e conseguimos galgar a escala social e económica.
Estamos começando a nos organizar, e os grupos sociais dirigidos à melhoria das condições precárias dos menos favorecidos estão se multiplicando: é o despertar da nossa consciência social.
Começamos a aprender que se não lutarmos pelos nossos direitos nem sequer sobreviveremos.

Leiam "O Povo Brasileiro", de Darcy Ribeiro, e entenderão melhor quem somos, como povo e nação.




Abilio Terra Junior



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