Comer melado é coisa de velho. Melado com banana, então, coisa de muito velho. Pois eu gosto de comer melado com banana, apesar de não ser muito velho. Digamos que eu seja um sujeito antiquado, da época em que a Educação ainda não era medida em graus. O atual 2º grau era Colegial, uma inovação que veio pouco depois do Clássico, do Científico e do Normal. Minha irmã Suely, por exemplo, fez o Normal (ai, quando ela ler isso vai me matar!).
Pois quem estudou Aritmética, como eu, já deve ter comido melado com banana, um dia. E também deve ter evitado, feito o Diabo a Cruz, leite com manga, pepino nas refeições noturnas e banho logo depois do almoço porque dava congestão (acho que éramos mais sensíveis antigamente, sei lá!). Conheço modernas senhoras de hoje que, no passado, atingidas pelo incómodo mensal, não lavavam o cabelo naqueles dias nem com ordem médica. Manias de época.
Aliás, sou do tempo das frutas de época. Hoje, dá para comer nozes em julho, manga em abril, morango em janeiro e fruta do conde o ano inteiro. A feira-livre não tem mais dessas coisas do "não é a época".
Sou, igualmente, do tempo da segunda época. E é evidente que não vou confessar para vocês que frequentava assiduamente a segunda época porque é época de consultorias, auditorias e redução de custos e isso depõe contra o currículo e pode me tirar da época.
Engraçado, porque somos limitados a épocas. Criamos novas épocas como jogadores de baralho entediados que desenvolvem tipos diferentes de canastra e novas limitações para bater e pegar o morto (quem é mais jovem deve estar pensando que escrevo sobre a Roma Antiga, especialmente se nunca jogou Buraco). É só olhar para os dias de hoje. Se acontece um corte de energia elétrica, ficamos idiotas. É burrice de época. Outro dia, precisei fazer uma conta na ponta do lápis e quase desidratei de tanta baba.
O Marquim, meu irmão escolhido, lembrou no fim de semana que o Beto, um diretor de arte amigo nosso, transformou-se em Paulo Coelho da publicidade lá na agência onde trabalha. Tudo porque acabou a luz e eles estavam em pleno processo de criação. A molecadinha geração Corel travou. "O que fazer? O que fazer?". O Beto pegou lápis e papel e continuou desenhando, na boa, como nos tempos dantanho. Imagino a cena. A rapaziada juntou em torno da mesa dele entre gemidos de espanto e admiração. "Nossa, ele faz à mão!" Os Deuses devem estar loucos.
O Beto e o Marquim, com certeza, comeram melado com banana, na época em que computador era coisa de ficção científica, Simca era o objeto do desejo, Banlon vestia as coquetes e trabalhar no Banco do Brasil figurava como aspiração de nove entre 10 estrelas do cinema. Que Luxo!