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Cronicas-->O amor é um andar solitário entre as gentes -- 03/06/2003 - 02:05 (Luciene Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"O amor é um andar solitário entre as gentes"

Enquanto limpava a casa, cantarolava canções diversas. Ria do que eu falava, ria do que ela mesma falava. Chegava na porta e perguntava se eu queria café, um suco, ou qualquer outra besteira. Irritava-me vê-la tão solícita, prestativa, tão inserida em meu cotidiano.

Quando foi embora, certifiquei-me de que o ónibus realmente havia virado a esquina sem possibilidade de volta. Somente depois respirei aliviado.

Estava de volta à vida, cheio de energia, alegre, satisfeito.
No dia seguinte, acordei mais tarde que de costume. Fiz eu mesmo o café, liguei o radio e comecei a trabalhar. Por volta do horário do almoço, desliguei o radio e comi qualquer coisa que encontrei na geladeira.
A noite chegou logo e dormir, noite após noite, não era problema.

De repente, comecei a produzir aqui, ali, acolá. Tinha tantas atividades que mal dava conta de começar uma e já partia para a outra. Os projetos começaram a ficar no meio, recomeçados, reiniciados, taxativos, implicantes, exigentes.
Era necessário manter o radio desligado e foi assim que ele ficou. Nem abrir a janela seria mais necessário. Que ficasse fechada. Assim eu me distraia menos. E fazer café tornou-se perda de tempo. Tanta coisa a fazer. A manha desembocava nos braços da noite sem eu mesmo perceber. A casa foi ficando mais e mais em paz. Calma. Serena. Tranquila. Solitária.

Eu ouvia passos, mas já nem prestava atenção. Os sapatos pela casa misturavam-se às camisas. Não havia ninguém para perguntar-me o que eles faziam ali.

Foi o pássaro lá fora quem começou a cantar primeiro. Um pio, dois pios, três pios e o inferno estava instaurado. Eu sentia falta do pássaro. Queria pegá-lo, colocá-lo para cantar o dia inteiro. O radio não bastava. Eu queria o pássaro. E quando ele escapou de meus dedos, comecei a desejar o cantor do radio. E do cantor do radio, passei a querer a presença da moça que passava na esquina.
Não sei porque a gente erra pela vida, tanto assim, desprezando o que ama para querer resgatar muito tempo depois.

Meu corpo todo estava árido, necessitando de cuidados, de um afago, de um beijo, um riso, qualquer história alheia imiscuída na minha. Ressequido, sófrego, trópego, bêbado, desnorteado.
Era dela que eu sentia saudades.

E não sabia para onde a esquina nos levava, nunca havia estado além daquela córnea de mundo.
Gastei a vida no lapidar solitário de quem precisa aprender a lição estando longe do amor primeiro.
Nunca mais vi a moça que tinha o riso aberto, como se sua arcada dentária fosse um varal de estrelas. E era. Isso, sei agora, como sempre soube. Só que antes, não era maduro o suficiente para perceber isso.

E o mundo tem muitas vielas, que desembocam em caminhos tortuosos, que engolem as pessoas, que abocanham desaparecidos, que nos abraçam num aperto de morte, esmiuçando a geografia de nossos ossos, semeando pedacinhos de tristeza.

Perdidas as vielas, perdemos as horas, os dias, o tempo de ser feliz. E dizemos que ganhamos experiência. Não é apenas nos contos que os finais são felizes.

Para nós, o "viveram felizes para sempre" significa viver acompanhado. De nossas dores.

L.Lima
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