Número do Registro de Direito Autoral:131197871149349000
RITUAL DA MANDIOCA
Silva Filho
Vou falar do meu sertão
Onde não chegou groselha
Que me ouça Vila Velha,
Também Santos, Ribeirão;
Vida dura neste chão
De causar u’a tremedeira
Nessa gente altaneira
Que o clima não sufoca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.
Com certeza, citadino
Não conhece bolandeira
Geringonça companheira
Do caboclo mui ladino;
O sertão não tem mofino
Nessa terra brasileira
Gente forte na trincheira
Mesmo em qualquer biboca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.
Bolandeira é a roda
Pra ralar qualquer raiz
Veio com o “Catorze Bis”
E nunca saiu de moda;
O sertão não se incomoda
Pois é marca brasileira
Se a moça é brejeira
Vem olhar e não se choca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.
Quem viveu no interior
Conheceu os artifícios
Como ossos do ofício
Do caboclo inventor;
Sendo cabra de valor
Não está pra brincadeira
Quando passa lá na feira
E não acha tapioca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.
O caboclo não se engasga
Nem com praga de mosquito
Vai na raça, vai no grito
Se tem brecha ele rasga;
Só um tapa desengasga
Para não fazer besteira
Tem a máquina moageira
Também outra pra pipoca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.
É metendo no buraco
Que se faz boa farinha
Como faz minha vizinha
Entre nuvens de tabaco;
Deu coceira no sovaco
Deu até uma gemedeira
Mas é coisa corriqueira
Ela abre - outro soca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.
Ninguém deve ser afoito
Pra fazer o que eu faço
O que sei não lhe repasso
Pois comigo são dezoito;
Lá na roça não pernoito
Pois no rancho tem goteira
Fico então com a lareira
Que me sobra na maloca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.
Fiz um breve intervalo
Pra pensar no arremate
Pois faltava o engate
Duma flor com o seu talo;
Tudo isso digo, falo
Nessa rima zombeteira
Que não sai da cabeceira
E bastante me provoca
É meter a mandioca
E correr pra bolandeira.