Esta história é verdadeira
Que conto com muito aprêço
Aconteceu na Gameleira
Falo sem nenhum tropêço
Terras de Chico Pereira
Um lugar que bem conheço
Fica na minha cidade
No estado do Ceará
Uma bela localidade
Pra quem quiser visitar
Foi em Iguatu, na realidade
O fato que vou narrar
Terra de gente de brio
Que vive do seu trabalho
Fica às margens do rio
Jaguaribe e seus atalhos
Um clima de pouco frio
Nem precisa de agasalho
Lá vive-se da agricultura
E também da pecuária
Produz muita rapadura
Verdura, queijo de coalho
Na roça muita fartura
Arroz, cebolinha e alho
Lugar de povo singelo
Sem pompa e sem vaidade
Nos pés, um simples chinelo
Ao viajar rumo a cidade
Admirador do que é belo
E de muita simplicidade
Um homem bem conhecido
Era o “seu” Chico Pereira
Prestativo e divertido
“Cabra” de boas maneiras
“Chico Louro” era apelido
Devido sua cabeleira
Lá, a gente conhecia
Chico Louro, o leiteiro
Que ao amanhecer o dia
Já estava no terreiro
Com toda sua alegria
Aboiando no bezerreiro
Ela tinha três vaquinhas
Que dava gosto de olhar
As tratava de amiguinhas
Bastava ele chamar
Mimosa, Lua e Negona
Elas vinham lhe encontrar
Ele, além de agricultor
Era um valente vaqueiro
Pois, lidava sem temor
Correndo o dia inteiro
Também era o vendedor
Do seu leite, e verdureiro
Antes do sol sair
Todo dia bem cedinho
Sua mulher dona Nair
Passava um cafezinho
Ele bebia antes de ir
Vender aquele leitinho
Chico Louro era sincero
Incapaz de uma mentira
Não aceitava despaupério
E nem gostava de intriga
Era limpo, sem mistério
Longe dele, qualquer briga
Só vendia leite puro
E verdura bem “fresquinha”
Era um homem maduro
Pra mais dos “50” tinha
Na palavra era seguro
Não era pessoa mesquinha
Mas, acontece que um dia
Passaram-lhe uma rasteira
Coisa que ele não fazia
Na sua vida inteira
Participar de zombaria
Nem mesmo de brincadeira
Alguém de má consciência
Com inveja e sem coração
Sem pensar nas conseqüências
Pôs água no seu latão
E avisou a diligência
Lá da fiscalização
Chico Louro foi detido
Por adulterar o leite
Que já ia ser vendido
Sendo ali um suspeito
Ficou muito entristecido
Não aguentou essa desfeita
Disse lá pro delegado:
- Sou um homem de bem
Se eu ficar aqui trancado
Prefiro morrer, também
Não volto pro meu roçado
Não quero mais ver ninguém
Foi uma peleja danada
Dentro da delegacia
Ele com voz alterada
O delegado às vezes ria
Era uma coisa engraçada
Tudo que ele dizia
E não mais suportando
Toda aquela humilhação
Chico estava se zangando
Com tanta interrogação
Foi logo derramando
Todo leite ali no chão
Olhe aqui seu doutor
Pode se acabar o mundo
Vou falar para o senhor:
- é um desgosto profundo
A gente ser trabalhador
E tá preso que nem gatuno...
Quando eu daqui sair
Se Deus quiser, sairei
Logo, logo... vou partir
Nunca mais eu voltarei
E nesse lugar... aqui
Leite não mais venderei
Essa foi a última vez
Que Chico veio a cidade
Logo, no mesmo mês
Depois dessa maldade
Vendeu terras e rezes
Foi pr’outra localidade
Não deu adeus a ninguém
Deixou todos e foi simbora
Nem ao dono do armazém
Onde ele passava horas
Não se despediu, também
Não se sabe onde ele mora
Essa é uma pequena história
De um homem trabalhador
Que perdeu toda sua glória
Por causa de um fraudador
Hoje eu guardo na memória
Sua honestidade e sua dor