Em cordel, meu caro Zé Dantas
Digo-te aqui dessas tantas
Por fabrico de mel na moenda
(Além do destilo da cana)
Marcaste a bocal de campana
Augusta tertúlia em tua tenda
Aprestas por molde a calenda
(Em que se rebela a Milene)
Por teu chamamento solene
Em cânon que nos recomendas.
Ao melaço, poeta plural
Esqueçamos de todo esse sal
Que tempera a pele bem seca
A rima, o metro, a sintaxe
Aguou-se nalguns pela praxe
Da forma pela forma tosca
(Assim como vicia-se rosca
Que em vão muito se aperta)
Sabemos que verso que presta
Basta ecoar doce da boca.
O verso da melhor escola
Que enverga soberbo a estola
De um latim sofisticado
Apronta no texto um encanto
É lido de canto a canto
Aplaudido e reverenciado
Ilustres o têm estudado
Como o povo nos recitais
E não lhe reparam os sinais
De como fora conjugado.
Se o bom verso sai do peito
Configurado e perfeito
Na idéia e no sentimento
A ele todos os louros!
Ajunta toureiro e touros
Em complacente movimento
Promove o esquecimento
Do fel que nos toca a ferida
E mal lhe reparam na lida
Co’a regra do conhecimento.
Poeta, meu muito obrigado
Pelo que disseste, eivado
De uma competência sem par
O teu militar na Usina
Demais engrandece e ensina
A todos daqui e d’além-mar
Por fim quero te declarar
Que entendi o mapa da mina:
- Para ser bom cordelista
tem que se ter vocação.