republicando Para meu Grande Amigo PEDRO RENDA JUNIOR (Pêrrêjota)
MODUS OPERANDI
O Pedro Renda me diz : “já não és poeta! “
Diz que meu estro está em decadência,
Mas fazer versos não é uma ciência
Que se aprenda em universidade,
É antes um “dom”, e isto na verdade
Independente de academicismo,
E não impede o analfabetismo
Que haja poetas de grande qualidade.
Nós, poetas, vemos em toda parte
Assuntos e motivos para rimas,
Todos os fatos são matérias-primas,
Porque ser cordelista é uma arte,
É popular, pois fala do que quer
Então não admite “laissez-faire”
Pois perderia a espontaneidade,
Escrevemos muita “merda” é verdade,
Porém só lê aquele que quiser.
Se apaixonados; fazemos poemas,
Se aguerridos; compomos baladas,
Se emotivos; saudades passadas,
Se confusos; poemas caóticos,
Se libidinosos; poemas eróticos,
Se hilários; só bufonarias,
Se gaiatos; só patifarias,
Se galvânicos; odes patrióticos.
Quando inspirados; poemas heróicos,
Sobre os feitos de nossos ancestrais,
Engrandecemos nossos generais,
Divinizamos nossos inventores,
Pomos em pedestais nossos doutores,
Reverenciamos antigas sumidades,
Superestimamos suas qualidades
E exacerbamos todos os seus valores.
Somos críticos e repórteres do tempo,
Somos cronistas dos fatos corriqueiros,
Somos os demiurgos e os coveiros
Pois criamos e enterramos tudo e nada,
Somos os andarilhos da estrada
Da vida, tudo ouvimos e tudo vemos,
O modo peculiar como escrevemos
Nos vem do “dom” da palavra rimada.
Por isto meu querido camarada
Pêrrêjota, que amo, que estimo,
Não é para agradá-lo que eu rimo,
...é telúrico, é coisa compulsória,
Sejam, poesias, poemas, ou uma estória,
“Zelimeirante” ou “Malazartiana”
Cervantina, Homérica ou Camoniana,
Verídica ou irreal e ilusória.
Não busco nesse “dom” nenhuma glória
Escrevo por escrever, isto é o bastante,
Uso linguajar chulo ou elegante
Conforme o humor que me sabe na hora,
Ao ler meus versos muita gente cora,
Envergonhada; falsa pudicícia!!!
Outros porém os acham uma delícia,
Pois minha obra é um grande mosaico,
A faço sem espírito farisaico
Sou dentro e fora a mesma imundícia.
Gosto de ser assim, é uma delícia,
Não sou “túmulo caiado” sou real,
Às vezes santo, às vezes animal,
Às vezes sou veraz com nímio zelo,
Tratando tudo com grande desvelo,
As vezes mentiroso e incapaz,
E por isto com Deus eu vivo em paz
Sou um homem normal, não um modelo.
mestre Egídio
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