A víbora enregelada e o Monge.
Na mesma terra gelada
Onde triste se fudeu,
O pardal do Daniel
Pois o YAQUE o socorreu,
Com uma cagada quente,
mas a raposa, inclemente
Tirou da merda, e o comeu.
nesta montanha se deu
Outro caso interessante,
Que modificou a sina
De um monge itinerante,
Que nas montanhas vagava,
Jejuava e meditava
Numa vida extenuante.
Ficou muito radiante
Pois uma cobra encontrou
Quase dura e congelada,
Mas em breve constatou
Que a miserável vivia,
E assim, cheio de alegria,
A recolhendo, levou.
Em um pano a enrolou,
E como a noite já vinha,
Seguiu a passo estugado
A uma caverna vizinha
Onde sempre se abrigava
E seguro pernoitava
Se praqueles lado vinha.
Se escuridão se avizinha,
Cai logo a temperatura,
Mas o monge precavido,
Em um recanto procura
Lenha que ali guardara
Quando outra vez passara,
Para precisão futura.
Então a caverna escura
Aos poucos se iluminou,
E aquecendo o ambiente
Aos poucos o frio abrandou,
E assim ao cansado Monge
Que viera de tão longe.
Um forte sono tomou.
Antes porém colocou
A cobra que recolhera
Junto ao fogo, agasalhada,
Mas a víbora traiçoeira
Recuperando a ação
Pica o monge na mão
Que piedosa a acolhera
Ao surgir a luz primeira
Do clarão da madrugada,
Na entrada da caverna
A cobra já recuperada,
Sai pra manhã reluzente,
E desliza rapidamente
Pela montanha gelada.
Junto à fogueira apagada
Que o frio já domina
Jaz o corpo congelado
De quem teve a triste sina
De cheio de piedade
Socorrer uma entidade
Má, peçonhenta e ferina.
Esta estorieta ensina,
Que só com sabedoria
Deve-se ser caridoso,
Porque por simples euforia,
Pode gerar grande mal,
Pois com tão triste final
Nenhum santo sonharia.
Mestre Egídio
|