Vou citar uma poesia
Popular, bem brasileira,
Vinda de um grande poeta
De qualidade primeira,
Humilde, mas, respeitado,
Com seu nome registrado:
Inácio da Catingueira.
Inácio foi um escravo
Que não frequentou escola,
Mas, foi um gênio no canto
Ao som de qualquer viola.
Não havia desafio
Que não deixasse, com brio,
Seu oponente de esmola.
Nos sertões da Paraíba,
Na Serra da Catingueira,
Entre Patos e Piancó
Este poeta nascera
Para cantar com grandeza
O riso, a dor, a beleza
Da sua terra altaneira.
Sempre ao ser desafiado
Para qualquer cantoria
Voltava, no seu retorno,
Com a coroa da poesia...
Sentindo, de tão contente,
Sem o peso da corrente
E com a carta de alforria.
Chegou um dia a cantar
Por doze horas seguidas
Com Romano de Mãe Dágua
Cantador de fama em vida
Mas, com seu conhecimento,
Após sofrer vários tentos,
Deu a luta por perdida.
Inácio da Catingueira
Tinha a visão bem à frente,
Já protestava a pobreza
De um Nordeste dependente...
Tocando com o verso a bola
Previa, ao som da viola,
Nesta estrofe consciente:
"Se tudo continuar
Sem que se dê solução,
O campo vira deserto
Vai findar sem produção.
As cidades vão inchar
Em termos de habitação
E a gente a importar
O milho, a fava, o feijão,
Farinha de mandioca,
Batata-doce, limão".
Por uma questão de justiça,
Na minha limitação,
Voltado para o poeta,
Eu externo a exaltação
A este gênio da poesia
Que na dor e na alegria
Só engrandeceu meu sertão
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