Morei em uma casa
com belo caramanchão
bem no meio do jardim
rodeado de botão
bem defendida do mal
e no fundo do quintal
morava meu Julião.
Um dia sem que pra que
em nossa casa chegou
sem nada ter trazido
e bem lá se aboletou
alegre e desprotegido
foi por mim recebido
nova casa encontrou.
Não trouxe nenhuma roupa
nem poderia vestir
lhe procurei o pescoço
parecia inexistir
e não sendo tão formoso
se valia preguiçoso
depois de comer, dormir.
Era noturno de vida
não gostava de calor
não era muito querido
ninguém via seu valor
mas a isso não ligava
pois a vida que levava
não se tinha tal fulgor.
Comia especiarias
algumas de rara face
todas de qualidade
na luz que iluminasse
e de fartura vivia
de um a um os unia
toda vida que pulasse.
Era muito paciente
nunca se alterava
tendo casa e comida
a paz não lhe faltava
dormia o dia inteiro
sem lençol sem travesseiro
e ninguém lhe aperreava.
Gostava de tomar banho
era sempre dois por dia
chovesse fizesse sol
com a mesma alegria
ficava verde e maior
em sua piscina só
somente ele cabia.
Tinha a casa redonda
porta pro lado sul
não havia a janela
tudo dentro era azul
era de barro formada
parede bem acabada
e chão de tijolo cru.
O povo que se chegava
se fosse aporrinhação
bastava fazer o dito:
“ está solto o Julião !!! “
o bicho amedrontava
por ele se procurava
perdia-se em confusão.
Alguns não queriam ver
e os outros também não
pois o final prometido
com esse nome de leão
era dado por comido
sem saber era temido
meu famoso Julião.
Morou comigo dois anos
num inverno se chegou
no do meio fez a festa
no terceiro se mandou
nenhum trabalho me deu
também não sei se morreu
nem pra onde viajou.
Uma casa abandonada
pois a mim não mais servia
tinha lá suas medidas
que a outro não cabia
esperei que o Julião
voltasse pelo verão
por saudade eu previa.
Dez anos se passaram
de tudo que se viveu
dos dias que Julião
muita alegria me deu
de tudo que ele comia
e de toda noite fria
que o mundo lhe ofereceu.
Hoje não espero mais
Julião inda encontrar
acho que uma namorada
fez ele se apaixonar
deixou vida de monge
danou-se para bem longe
ser feliz noutro lugar.
Vou terminar desta vez
fazendo esta homenagem
pois o Julião me era
um sujeito de viagem
pois pouco tempo passou
por dois anos que morou
nos ficou a sua imagem.
Ele era o que chegou
sendo o mesmo no partir
vocês vão me entender
do amigo narrado aqui
seu nome foi Julião
um SAPO de estimação
quem quiser já pode rir.
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LITERATURA DE CORDEL
Por Marco di Aurélio
João Pessoa – Paraíba – Brasil
Junho de 200l