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Cordel-->O CALOR DAQUI É VIDA -- 20/01/2002 - 12:45 (Marcodiaurélio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CALOR DAQUI É VIDA


O mundo quando sacode
nos dias de trovoada
na hora que o raio explode
calando a passarada
a terra toda se abre
e no bucho dela cabe
toda água derramada.

Quem já parecia morto
nesta hora se acorda
aquilo que era maniva
agora é maniçoba
ali termina a tristeza
o resto vira beleza
quando o céu de nuvem borda.

O galo que é de campina
o canarinho da terra
a formiga que seu ninho
o caminho nunca erra
faz parte de tudo quanto
o riso depois do pranto
faz o sertão virar terra.
2
Quando canta a seriema
a juriti silencia
o saguim já não pula
fica parada a cotia
todo preá se sossega
e a ouvir se entrega
a seriema sadia.

O cancão se amofina
diante daquele som
o canto da seriema
de beleza tem seu tom
cada ave, cada bicho
é dono de seu capricho
cada qual com o seu dom.

E o dom do sertanejo
é olhar pela janela
seja da casa ou do trem
dependendo da querela
hora chove, ora faz seca
contanto que não se perca
o que veio fazer nela.

Hora vê seu roçado
hora vê a velha estrada
numa não vendo fruto
noutra vê caminhada
na cidade se prever
o que tudo vai sofrer
pela sua arribada.
3
Este é o dom sertanejo
não cuspir em sua terra
deixá-la bem de mansinho
na grandeza que a encerra
pois nenhuma terra ainda
a ele se mostrou linda
pro enterro que reserva.

Quando assim não ocorre
se ainda for de barbicha
saindo do amado norte
uma sulista capricha
de encher o coração
do filho deste sertão
com um olhar que enrabicha.

Numa história ocorrida
foi dessa feita que então
um filho aqui do norte
que perdeu seu coração
e só ficou sossegado
quando aqui foi buscado
um jumento de avião.

A alegria foi dele
a viagem foi beleza
o jumento atordoado
sem entender a proeza
de subir na geringonça
co’a a cabeça inda zonza
começou sentir tristeza.
4
Este filho do norte
que lá no sul enricou
entregou seu coração
pra moça que lhe ganhou
pra dizer a verdade
poder matar a saudade
esse jumento importou.

Foi um abrir de porteira
enquanto tocava o sino
foi se chegando a família
tios, tias e primos
a fazenda ia enchendo
e muita boca comendo
com o seu novo destino.

Foi juntando de pouquinho
tudo de seu desejo
de bicho a passarinho
de sanfona a vialejo
na fazenda tudo tinha
quando caía à tardinha
o sol era sertanejo.

Mas lá dentro do peito
o coração sempre soube
que bode vive na brenha
que não se tem em açougue
que o sertão vive longe
e que no sul ele esconde
aonde não tem azougue.
5
O calor daqui é vida
siga a minha linha
o que seria da aurora
que a madrugada definha
o que seria do povo
se não houvesse no ovo
o calor d’uma galinha ?

Se o calor não fizesse
a carne-de-sol secar
o bode não serviria
pro sertão alimentar
não haveria a praia
não haveria cambraia
muito menos Ceará.

O calor daqui é fogo
dividido por parede
no pote se guarda a água
pra poder matar a sede
ventilando o calor
no quarto se faz amor
pendurado numa rede.

O calor daqui é vida
na alegria de menino
no seu banho de riacho
no gritar em desatino
sem saber atrapalhar
sem olhar no seu pisar
os inocentes girinos.
6
O calor daqui é vida
pro ninho de arribaçã
o acordar do sertão
no choro da acauã
para a beleza da cor
depois de morta a flor
na renascida romã.

Pro leito do rio seco
pro descansar do tejú
pra se pentear o peito
trepado num pé de embu
pra tudo que amadurece
e o sertão oferece
para o irmão sanhaçú.

O calor daqui é vida
quando a flor dar o mel
quando cura a ferida
diminuindo seu fel
quando na garrafada
toda ela é passada
do rico ao esmoléu.

O calor que marca o boi
e também cabra safado
mesmo Lampião que foi
por aqui bem viajado
acendia o seu cigarro
como cachimbo Navarro
inda hoje é lembrado.
7
O calor que ele sentiu
se vestia toda em chita
era mulher palpitante
era uma linda cabrita
pegou no braço e levou
seu coração se queimou
nela Maria Bonita.

Se um pintor escolhesse
ter o sertão como tela
não se teria paleta
não seria aquarela
pois o sertão não se pinta
não se teria a tinta
pra uma coisa tão bela.

Toda tinta do mundo
não teria seu valor
nem pro dia, nem pra noite
nem gosto e nem sabor
pra refletir o sertão
nem pintado num gibão
com o seu maior calor.

O calor daqui é vida
que não há um só pincel
que retrate o meu sertão
e o gosto de seu mel
nem a fumaça do dia
que depois que me esfria
me leva sempre pro céu.
8
Ao sertão não há igual
terra se houve, não era
se pode falar de tudo
até pensar em quimera
se a natureza persiste
e enquanto ela existe
vou morrer em cima dela.

__________________________
LITERATURA DE CORDEL
Por Marco di Aurélio
João Pessoa – Paraíba – Brasil
Dezembro de 2001.

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