Uma inversão por joão rodrigues.
Fonte:Jangada Brasil
Não é uma história engraçada
Esta que vou contar
E é de todo inusitada
Ocorreu no Ceará
Do Rabicho da Geralda
Agora quero falar
Não sei bem o motivo
Para tanta altercação
Por mim estaria vivo
A andar pelo sertão
E hoje não seria mito
Nem também assombração
Não descobri o autor
Mas destino tem capricho
Bezerra de Menezes guardou
No meio da papelada
A história do tal bicho
O Rabicho da Geralda
Até o José de Alencar
Dela foi se lembrar
Não o trocou por Peri
Mas não esqueceu de falar
No Rabicho da Geralda
Que todos queriam pegar
Foi em, um, sete,nove dois
Ou em um, oito, sete quatro
Foi antes e não depois
É isto pra mim um fato
É história de boi
Narrada por literato
Não querendo encompridar
Nem fazer uma remendada
Foi lá no Ceará
Que do meio de uma boiada
Fugiu lá do curral
O Rabicho da Geralda
Só não dá para entender
Como é que tudo foi
E quero compreender
Como é que virou boi?
Fugiu ainda bezerro
Ou será que foi depois?
Foram onze anos de luta
Todos querendo encontrar
Na caatinga ou na baixada
E era grande a disputa
Pois o Rabicho da Geralda
Todos queriam pegar
Mas não dava bobeira
Aquela fera encarnada
José Lopes e Moreira
E mais além o Xerém
Corriam em disparada
Pro Rabicho da Geralda
Já o bicho dividido
Pra gente seria comida
Pra alma adjutório
Em duas bandas partido
Já pronto até o velório
O bicho não era simplório
O boi tomava sumiço
Dele não se via nada
Só no meio do arisco
É que se via pegada
Não iam fazer rebuliço
Com o Rabicho da Geralda
Importaram um vaqueiro
Das bandas do Pajeú
E ai se fez empreitada
Era ele um faroleiro
De cara bem amarrada
Botaria no terreiro
O Rabicho da Geralda
Seu nome Inácio Gomes
Meteu-se lá na Quixaba
E dizia; hoje tu comes
Deste aqui uma ferrada
Não tinha medo dos homens
O Rabicho da Geralda
A peleja foi terrível
Pega, pega; vai não vai
Uma correria incrível
Parecia não ter fim
O boi era o satanás?
Ou seria um Querubim
Parou então o Inácio
Voltou e pegou a estrada
No seu corpo o cansaço
De orgulho, já mais nada
Desistiu de ir no encalço
Do Rabicho da Geralda
Quando chegou grande seca
O boi de sede morria
Atravessou uma cerca
E se fez aparecer
Enfrentaria marreta
Mas água iria beber
E parece desatino
Ou uma coisa exagerada
Foi preso por um menino
O Rabicho da Geralda
Com muita raiva mugindo
Contra a porteira fechada
Trouxeram três bacamartes
Vinte "veio" pra matar
Uns pegavam nas partes
Os outros, noutro lugar
E o Rabicho da Geralda
Puseram-se a esfolar
Contaram muita vantagem
Ali e em outro lugar
Um ano de pabulagem
No sertão do Ceará
Mas ninguém teve a coragem
Do mesmo final recontar
Restou como epitáfio
Riscado lá no pedrisco
"Não há boi como o Rabicho"
Mas em noite enluarada
Vê-se a sombra do bicho
Do Rabicho da Geralda
E quando chega a invernada
Tudo nos lembra o Rabicho
É uma coisa emaranhada
Não morreu de sede o bicho
Foi morrer só por ter sede
O Rabicho da Geralda
De boi é essa história
Um bicho brabo da peste
E é também do nordestino
Que na seca só padece
Os dois têm o mesmo destino
Quando a chuva vai embora
Não sou dono da história
Mas não gostei do final
Não vi nada de glória
Em se matar o animal
Seria por si meritória
Com o bicho no curral
Fica aqui o meu protesto
E sei que não vai dar em nada
Não quero dele o regresso
Nem o aguarda a bicharada
Se bicho soubesse assinar
Iria uma baita assinada
Pelo dito ou não dito
E não sou Pedro I
Mas com o Rabicho eu fico
Mesmo sem ser verdadeiro
E os que mataram o bicho
Eu asso num candeeiro