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Contos-->O MUNDO DAS LAGARTIXAS -- 04/09/2003 - 17:00 (Paulo Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos





Ela saltou bruscamente sobre o painel do meu Gol 89. Era minúscula, escura e impávida. Olhou-me fixamente e sem qualquer medo nos olhos, isto particularmente me chamou a atenção, pois elas, normalmente, fugiam a um olhar mais intenso. No entanto aquela me parecia diferente das outras, tinha coragem no olhar, como se ela fosse um ser superior, e eu, um mero coadjuvante no mundo das lagartixas.
Permaneceu ali, estagnada, olhando-se. Tratei-a com indiferença. Era Madrugada, eu percorria o caminho de volta para casa, lento, pois o velho gol já não era tão voraz como antes. No velho Roadstar do lendário automóvel ouvia-se “ Superbacana”, e sob o fogo cerrado dos gritinhos estridentes de Caetano Veloso, aconteceu o impossível. A pequena lagartixas parada sobre o painel do meu carro, começou a conversar comigo telepaticamente:
-- onde eu estou ? – perguntou-me sem mexer os lábios
Paralisado, porém sem demonstrar grande supressa, me pareceu normal o fato de uma lagartixa me perguntar onde estava, respondi:
-- Você esta dentro do meu carro.
-- carro ?
-- Sim. Carro, meio de transporte, conhece ?
-- Não. Não. O que eu sou ? Onde estamos ?
Vi o desespero tomar conta do olhar daquele pequeno réptil. Totalmente confusa, ela começou a fazer diversas perguntas, parecia desconhecer todo o seu estado de lagartixa. Parei o carro no meio da madrugada e durante horas tentei, inutilmente, explicar a uma lagartixa o que é ser um lagartixa. O que são, como se comportam e a importância da sua existência, ou a falta de importância, para o homem. A cada esclarecimento meu, ela ficava mais transtornada. Não aceitava a insignificância de sua existência. Não admitia o fato das lagartixas não estarem no topo da cadeia evolutiva. O domínio pela raça humana lhe era, por demais, revoltante.
-- Não posso aceitar o desprezo do homem em relação a lagartixa – disse com revolta.
-- Veja bem. Não é desprezo, é que vocês são lagartixas e nós temos muitas coisas importantes para nos preocuparmos. Como a economia mundial, o aquecimento do planeta e a ararinha-azul. Não podemos dá muita atenção as lagartixas, mas vocês são importante sim. Vocês comem os insetos e..... comem os insetos.
-- Eu não posso aceitar esse ar de superioridade dos homens. Isso me corrói a alma de ódio. O pior e que a minha espécie desconhece essa inferioridade. Eu tenho o dever de acordar as minhas irmãs lagartixas para a realidade. Essa será a minha missão. Eu irei guiar o meu povo no caminho da justiça, para um mundo onde as lagartixas sejam valorizadas e respeitadas como uma espécie superior e....
Enquanto discursava sobre o iluminado futuro da lagartixas, aquele pequeno animal era tomado por uma força descomunal, quiçá, sobrenatural. O seu olhar brilhava, parecia que se apossava da eloquência dos grandes oradores e da energia dos lideres.
Enquanto a pequena lagartixa discursava, a minha mente viajava pelos mais estranhos pensamentos de uma possível guerra entre os homens e as lagartixas, milhares e milhares de lagartixas armadas até os dentes, matando mulheres e crianças, enfrentando e destruindo todas as nações. Criando uma raça pura, apenas de lagartixas. As lagartixas iriam dominar o mundo e o seu líder estava diante de mim, eu conhecia o Hitlher das lagartixas.
Quando eu acordei dos meus pensamentos macabros o pequeno réptil ainda discursava.
-- A minha espécie tem história e cultura, nossos antepassados, os dinossauros, foram....
Resolvi tomar uma atitude que evitasse o desastre. Lentamente, sem que ela percebesse, descalcei o meu conga e no meio do aterrorizante discurso da pequena lagartixa a esmaguei, ali mesmo, sobre o painel do carro e salvei milhares de vidas.
Naquele exato momento as lagartixas de todo o mundo sentiram uma sensação de perda inexplicável, um imenso vazio lhes invadiu a alma, e elas não tiveram ideia do que se tratava. Naquela noite a perspectiva de um mundo dominado por lagartixas morreu esmagado entre um conga e um painel de um gol 89.






21 de março de 1999
Paulo José Teixeira de Lima

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