O jantar estava soberbo. Dona Hortência e sua empregada, Nhãna, usaram todo seu conhecimento culinário para impressionar o Sr. Antunes. E conseguiram. Apenas para Sérgio a comida estava sem gosto, insípida.
Os bolos de alimentos desciam rasgando pelas paredes do estômago. Uma queimação castiga-o, deixando seu face retorcida, numa expressão que unia a dor física à dor sentimental. Como conseguiria suportar aquilo? Como?
A conversa do banquete variou do óbvio quotidiano do escritório do Sr. Antunes ao réles dia-dia de dona Hortência. A cada comentário tolo que ela fazia, ele simulava um falso interesse verdadeiro. Sérgio pensou: "Isso é o que eles são: uma grande dupla de dissumulados!" Clarinha prestava atenção ao mesmo tempo em todos e em ninguém. Seus pensamentos estavam fluídos, como sempre.
Ao final do regalo. Antunes despediu-se de Dona Hortência agradecendo-lha pela hospitalidade; depois despediu-se de Clarinha beijando suas mãos; e despediu-se de Sérgio, não esquecendo-se de lembrar-lhe de suas obrigações:
_Nos vemos amanhã às oito, no escritório.
E montou em seu carro recém comprado, rumo à sua casa.