Espero que meu diário algum dia seja encontrado aqui no sótão desse manicômio. É com essa esperança que escrevo.
Vim para cá faz cinco anos. Chovia. Era vir ou ficar encarcerado com bandidos perigos, na filial do fim dos tempos chamada prisão. Aqui pelo menos o cheiro de urina é só meu.
Nunca fui louco. Nunca comi merda, nunca rasguei dinheiro. Acho que fui internado devido ao meu silêncio. Eu sempre soube que minha timidez iria me atrapalhar um dia. Quem cala consente. Aqui dentro, cada ato meu foi contribuindo para a má fama do meu juízo. Se eu não queria tomar banho na água fria, ah! que insanidade. Se não queria comer meu farto banquete azedo, ah! que doido. Mas acho mesmo que sou meio estranho. Mas nunca fui louco. A culpa é do amor que me ardeu uma vez sem me queimar. A culpa toda é daquele auréo coração enferujado de pedra, daquele corpo mutilado, daquele sangue em minhas mãos.