Era uma vez um menino chamado João. João não fez o jardim de infância mas desde que entrou para a escola, para a alfabetização, foi aprovado todos os anos, sem repetir nenhum. E isto usando muitas vezes livros velhos, emprestados, onde as respostas do aluno anterior eram apagadas com borracha para não serem identificadas. Nunca levou de merenda um iogurte, ou um chocolate; levava aipim cozido, pão com fritada e quando a situação permitia, um biscoito recheado, sabor morango ou chocolate. Em casa, nunca lhe tomaram a lição ou lhe ajudaram com o dever, mas todos ficaram pasmados com a interpretação que ele deu ao ler um dos textos do livro de português "Infância Brasileira", isto já na terceira série. E assim foi sempre. João surpreendia as pessoas com sua inteligência, sua vontade de estudar, seu capricho com as coisas. Um dia, formou-se em engenharia, orgulho da família, dos vizinhos, do bairro todo. Marcou noivado com a Mariana, inscreveu-se em um concurso da prefeitura e passou. Quando foi tirar cópia dos documentos para começar a trabalhar, encontrou na rua um rapaz que, segundo testemunhas, lhe pediu uma informação, sendo que o tiro veio logo depois, aparentemente sem motivo. Nada mais foi dito à sua mãe, uma cozinheira das boas, que chorava em desespero, enquanto o corpo era removido para o IML. |