Lenda da estrela cadente
(de Darques Lunelli para Álvaro Rodrigues,
junho de 2002)
Contam que o Grande Guerreiro, deitando o olhar sobre os intermináveis campos de batalha, lembrou-se de um certo guerreiro que há muito vira empenhado em conquistas. Era valoroso, leal, um caráter inatacável. Compadecendo-se dos longos anos de empenho do incansável guerreiro, chamou à sua presença um elfo e lhe disse:
Vá até aquele guerreiro e o auxilie em sua busca.
Imediatamente – disse o elfo.
Apresentou-se ao guerreiro dizendo:
Sua bravura despertou no coração do Grande Guerreiro a vontade de ajudá-lo em sua busca. Sou um elfo com a missão de satisfazer os seus desejos. Eu lhe mostrarei o caminho para a felicidade.
Não quero ajuda. Dê-me asas e eu mesmo encontrarei o caminho.
Assim foi feito, e o guerreiro ansioso alçou vôo em busca do seu sonho. Atravessou mares de tempo, consumindo na busca outra metade de sua vida, mas essa revelou-se infrutífera.
Cansado, abatido e triste, procurou o Grande Guerreiro.
Senhor – disse ele – outros menos valorosos encontraram há muito a felicidade que buscavam, enquanto eu que estive em tantos lugares jamais a encontrei. Por que me foi reservado tamanho infortúnio?
Deve haver um engano, pois lhe enviei, certa vez, um elfo.
Bem sei.
Pois era sua a missão de ajudá-lo.
Deu-me as asas que pedi e com elas pus-me a caminho.
Mas era ele o seu caminho.
Ele? Como era o seu nome?
Chamava-se Amor.
O instante de silêncio bastou para que no coração do guerreiro a luz do entendimento se acendesse. Lançou-se, uma vez mais, no vazio do céu. Em sua vontade de recuperar o tempo perdido, no entanto, atingiu velocidade estonteante e suas asas se incendiaram, deixando no negrume do espaço um melancólico rastro de luz.
É esse rastro que vemos nas noites estreladas e confundimos com estrelas cadentes: sua busca continua e aqueles que têm o mesmo desejo pedem ao alado guerreiro que lhes indique o caminho.
Alguns há, sabe-se, que o encontraram.