O homem sentou-se numa pedra. Não percebeu que já era noite e findara-se o dia. Não prestava atenção ao que se passava à sua volta. Não enxergava o horizonte à sua frente nem ouvia o quebrar das ondas abaixo dos seus pés...
Mais uma vez ele voltava àquele lugar. E mais uma vez ele sentia o mesmo vazio que lhe marcava o peito sempre que tocava naquelas lembranças.
Ficou ali. Parecia estar ainda ouvindo a voz doce e meiga que guardava na memória. Não ouvia o som das palavras, mas sentia a suavidade com que cada uma havia sido dita. A mesma doçura que o havia lançado àquele ritmo louco de vida. Fizera-se mergulhar no trabalho, viajara, correra mundo, pisara em terras estranhas, deitara-se em muitas redes.
Tinha deixado todas estas lembranças de lado. Sabia que não as tinha perdido no esquecimento, mas sabia que podia mantê-las jogada naquele canto escuro da sua vida. Ou melhor, imaginava que pudesse ser assim. Até que a campainha do telefone tocasse no início de tarde daquele dia...
Foi como se estivesse voltando de um sono profundo, um sono o qual trazia vagas imagens e poucas recordações. Foi como se estivesse sendo acordado, se não violentamente, mas de tal forma abrupta, que nem se dava conta se dormia e sonhava ou se já nem sonhava enquanto vivia.
Ficou ali. A ruminar seus pensamentos, a catar fragmentos da última conversa que haviam tido.Tentava recordar a cor do tecido do sofá no qual sentaram para despedirem-se. Não ele, mas ela, com sua voz doce e meiga. Ele jamais se despediu. Apenas aceitou o sonho que ela precisava viver, um sonho começado bem antes de terem-se conhecido. Um sonho...
O vento soprou-lhe fresco no rosto trazendo-o à realidade daquela pedra. O homem então se levantou, caminhou até a beira da praia e molhou seus pés com as lágrimas que lhe escorriam pela face...