Baba, gosma escorre-pende da sua boca. Cadela raivosa. Caninos presos no metal do aparelho ortodôntico. Morde-se, rasga-se, debatendo-se no ponto de ônibus, sob o olhar assustado do rebanho suado. Pipocam neurônios, pequenas explosões que a fazem ferir-se toda no chão de cimento, incontrolável.
Baba-gosma, escorre e pende da sua boca, visgo e nicotina, enquanto seus olhos traçam raras trajetórias no globo ocular. O caos de suas pupilas, trêmulas bolas negras em fundo branco injetado. A língua enrosca-se, comprime a garganta, e você passeia em algum lugar distante e nebuloso. Tudo em minutos, poucos minutos, e agora você respira como cão ferido, ave eletrocutada, baleia encalhada e moribunda. Não ouve comentários tortos e dissimulados de alguns do rebanho que se omitiu em sua ajuda. Você nem sabe que a baba-gosma-escorre-e-pende faz parte de sua boca torta e abandonada no ponto de ônibus.
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