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Contos-->Mollitia -- 28/01/2002 - 12:13 (Felipe de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Nâo consigo, nâo quero e nem posso me enganar. Eu sou prisioneira simplesmente da minha nâo-simplicidade. Talvez fosse bastante fàcil retornar, recomeçar tudo de novo, implorar perdâo e ficar ao teu lado, quem sabe para sempre, embora nâo acredite nesta palavra nem nesta sensaçâo de eternidade duradoura, que algumas vezes, chamamos felicidade. Talvez fosse suficiente pedir e dar para que o homem que vive comigo seja o ùnico, mas nâo é o que desejo no mais profundo de mim mesma, gosto desta idéia de amar muitos homens.
Pode até parecer vulgar, infantil ou seja là como queiras qualificà-lo. De alguns homens tenho somente quaisquer migalhas de atençâo de tempos a outros, entretanto, eles estâo sempre là quando eu tenho realmente necessidade deles. Sensualmente me tocam somente da ponta dos dedos e dos olhos ou do coraçâo, como você, assim longe e portanto, fielmente presente. Eu tenho muita sorte, jà disse isto muitas vezes à vàrios homens, alguns acreditaram, outros fingiram nâo entender, outros ignoraram completamente minhas palavras, mas eu descobri com alguns deles a volùpia infinita de uma relaçâo afetiva e sexual. Encravada e dolorida feito uma espinha de Acàcia na minha carne e ... Como encontrar as palavras exatas para descrever essa relaçâo feita de nâo ditos e de sensaçôes, de trocas de meias-palavras, encontros e desencontros, fricçôes, frustaçôes e meu coraçâo, este coraçâo que pertence a ti, e a alguns outros, este coraçâo que te ama, està bem arruinado e em pedaços.

Na tua ùltima carta, quase choro de remorsos, sentir que, mesmo depois de todo este tempo, ainda carregas nobres sentimentos por mim, saber que ainda te excito, mesmo que seja em pensamentos, que passas algumas noites a pensar e repensar os nossos momentos ìntimos é de uma doçura incrìvel e de uma violência inusitada também. Você està tâo geograficamente longe e tenho dùvidas se um dia me aproximarei novamente de você. Se seremos de novo tâo ìntimos.

Eu nâo espero nada de todos estes homens que estâo dentro do meu coraçâo, nem de você, nem de ninguém, nâo quero fazer declaraçôes de amor que, possìvelmente, me ridicularizaria diante dos meus olhos. Quero continuar, pelo menos nesta àrea, fiel a mim mesma e aos meus sentimentos, mesmo que tenha que pagar caro por cada decisâo tomada ou adiada.

Durante a noite, inùmeras vezes, questiono-me incessantemente : O que serà de nòs e desta exacerbaçâo de desejos inacabados, sem futuro, sem perspectiva de final e minada de frustaçôes e desejos. Tudo tâo negro. Tudo tâo realmente impossìvel. Numa outra noite digo-me, a queima-roupa, que muitas coisas ainda sâo possìveis e nem tudo està realmente soterrado entre nòs. Deliro ! Talvez ! Como evitar este avalanche de delìrios. Aliàs, ultimamente a ùnica coisa que me conforta realmente é este meu delìrio matinal.

Essa semana, folheiando ao acaso uma revista, descubro essa palavra romana antiga : Mollitia : incapacidade de resistir as tentaçôes do prazer. Por vezes, penso que seria bom e saudàvel se deixar guiar pela mollitia. Nâo acredito nestas pessoas que escondem a verdade mais pura e dizem nâo precisar de sexo para ser feliz. Como seria deliciosamente bom nos deixamos guiar por essa estranha sensaçâo : sem remorsos, sem culpas, sem resistência.

Ainda ontem fui com uma amiga a La Goutte d’Or, gosto deste bairro e desta parte pobre, desleixada, mendicante e fodida de Paris. Tâo diferente dos outros bairros elegantes, ditos residenciais e turìsticos de Paris. A ordem total, bem comportada, abjetamente limpa, ainda nâo se instalou completamente neste bairro. Até mesmo as linhas retìlinias das ruas e calçadas parecem disformes, teimosamente curvadas, nâo querendo se alinhar por puro desleixo ou teimosia. Existe sempre neste bairro qualquer coisa de perigoso, agressivo, sujo e decadente.

Sem contar os olhares brutais dos homens na minha direçâo, como se nos cobiçassem e, ao mesmo tempo, quisesse nos possuir alì mesmo no meio da rua, feita uma cadela vadia, numa forma de dominaçâo e humilhaçâo total. Eu disse a minha amiga que todos aqueles olhares vindos na nossa direçâo eram de òdio. Eles nos odeia por causa da nossa liberdade de agir e pensar, por causa desta nossa maneira de existir, por causa do nosso sexo ardente que eles nâo conseguem aprisionar, por nâo sucumbirmos a essa passividade mortal. Ela sorrir descaradamente e nâo acredita no que digo, mas là no fundo, eu acredito que seja isto mesmo, estes homens desejam minha liberdade, meu amor, meu corpo e, ao mesmo tempo, tudo isto os fascina e provoca uma avalanche de medos e mistérios.

Inùmeras vezes a nossa paixâo se escoou pelos quatros cantos do quarto, lavando o que restava de nossas vidas, tudo isto numa frenesia quase inacreditàvel, mas hoje, olhando em detalhes, tudo isto parece fazer parte de um passado longìnquo que, por vezes, penso mesmo que nunca existiu. Nâo renego o passado. Algumas vezes, é verdade, este nosso passado retorna, numa força endiabrada e simplesmente nâo consigo impedir o fluxo de todas as nossas emoçôes.

Nâo penses que estou enlouquecendo por causa da tua ausência ou que sofro os piores tormentos de amor, nada disso, estou até mesmo sentindo-me como um ferido de guerra que recupera às forças num confortàvel hospital e tem grandes planos de voltar a trabalhar. O que eu pensei inimaginàvel começa a se desenhar numa força estranha mais real : aos poucos tua imagem vai se distanciando de mim que, algumas vezes, preciso forçar a memòria para que algumas partes do teu corpo retornem no tempo presente.

Por incrìvel que pareça, a cada dia eu sinto-me inteira, imbatìvel, sòlida, no meu mais ìntimo ser, como se dentro de mim tivesse nascido uma outra mulher. Uma mulher que acredita nas coisas da vida e da morte e que tem plena consciência do seu tempo e das relìquias do amor. As coisas ainda nâo estâo muito nìtidas, mas, vagarosamente, vou traçando as trilhas da nossa història. Nâo existe culpados. As coisas sâo simplesmente assim.
Ainda esta semana, lembrei-me, faz quase um ano que escolhemos a separaçâo, bastou tâo pouco tempo para nos distanciarmos. Nâo digo esquecer, pois acho que nunca te esquecerei, mas inùtil negar que existe uma distância melancòlica entre os nossos destinos. Nunca imaginei que toda a nossa història de amor ficasse retida no passado. Empacotada. Numa prateleira qualquer das nossas vidas. Nâo guardo rancores. Nem poderia. Nâo acuso ninguém. Nâo deu certo, jà estava marcado com signos de fogo em alguma parte deste universo que o final seria assim. Como diz o povo : foi bom enquanto durou.

Se tivesse que recomeçar eu o faria de novo, viveria todas as horas de amor e sofrimentos em tua companhia, disso tenho certeza, porém, procuraria me proteger um pouco mais, aqui e ali, para nâo sofrer tantas desilusôes. Eu me entreguei por inteiro a você, como jamais me entregue a um outro homem, mas o fracasso de nossa relaçâo nâo pode ser explicado por conceitos, palavras, diretrizes, talvez nâo tivéssemos sintonizado neste momento para continuarmos juntos : por quê tentar explicar o inexplicàvel ?

Sinto-me num estado de letargia curiosa e ao mesmo tempo sei que estamos, de alguma maneira nos distanciando : olhando meu eu mais profundo neste momento, posso dizer que eu sou feliz. Nâo uma felicidade fulgurante : uma paz inaudìvel sobrecaiu sobre meu corpo e consigo passar horas e horas pensando, refletindo, fazendo planos para um futuro pròximo ou simplesmente guardo o espìrito vazio, imòvel, sem nenhuma desejo além de ficar completamente em paz comigo mesma.

Trecho de O Labirinto da Paixâo
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