Olhei todos os recantos da sala, da minha casa, à procura do
melhor lugar para amar o doce momento. As paredes estavam
preparadas pela prévia reforma e pintura, com vários quadros.
Vidros repostos, cortinas lavadas, tudo limpo, bonito, resultado da
faxina estafante, feita dias anterior. Apenas uma insistente tosse,
fazia lembrar da finissima poeira em suspensão ou escondidas nas
roupas. A dispensa ao fundo de casa era o único lugar sombrio,
escurecido por falta de luz, onde eu guardava minhas peças de
esculturas. A tv, rejeitei, com escrúpulo de que aparecessem as
costumeiras cenas cruentas de uma realidade agressiva, constrastando
com a docilidade da repressentação. Na sala também tinha a
prateleira do som, sim, cantinho ótimo, até que eu poderia pôr
música de fundo...ah...mas ela não apareceu, e, as pequenas
imagens seriam logo destruídas. Em cúria da mesa, também estava,
reservada para as refeições. Desembrulhei um presente que ganhei
com delicadeza, ainda oculta dentro da caixa de papelão, desde
o ano passado. Ai, me revelou-se uma doce verdade: preciso
seria limpar os cantos escuros de mim mesmo, elucidar os mistérios
da alma, perfumar com odores das flores, o âmago do meu
próprio coração e lá, sim me transfigurar.
-JOSE ANGELO CARDOSO.- Poeta, contista, artista plastico.
Guaira-sp. 28 de dezembro de 2001. |