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Contos-->O Homem Azul (versão 2) -- 06/10/2001 - 20:00 (Gabriel Valmont) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Sexta-feira, nove horas da noite e eu vou me matar.
Resolvi fazer isso há uma semana, como vêem, a decisão não desviou-se da minha cabeça.

Jantei, tomei um banho, escovei os dentes, reli alguns belos pensamentos e sentei na moldura da janela do 11º andar - meu apartamento.
Chegou a hora em que vejo em minha mente todos os problemas que deixam minha vida um fracasso.
Fechei os olhos. Não quero ver o "abismo".
Abri os olhos, acho melhor ver o chão enquanto caio.
Fiz meu último pedido enquanto olhava para todas as pessoas andando nas ruas, morando nos prédios vizinhos. Pessoas e suas vidas. Pessoas e seus problemas.
Olhei para o prédio na minha frente, casualmente vi, pela janela, um homem de cor azul. Ele estava sentado em uma poltrona bastante confortável, tinha uma xícara de café na mão direita e assistia televisão tranquilamente. Nada mais podia incomodá-lo. Este homem azul irradiava uma certa calma, uma felicidade pessoal e comum; como se esse ato rotineiro - o de assistir tv - trouxesse a devida alegria à sua vida.
Por um instante eu pensei e me perguntei: por que ele estava feliz? por ele não se importava?
Instantaneamente entendi que sua situação era confortável pois ele era diferente. Ele era azul.
Nunca vi um homem azul antes e nem creio que você tenha visto. Mas o que acontece é que ele era, de fato, azul!
Sai da janela e procurei algum tubo de tinta azul na dispensa da minha casa, depois no meu quarto, depois no banheiro, no quarto de visitas, e por fim, não tinha encontrado nada.
Peguei a chave do carro e desci do meu apartamento. Fui imediatamente procurar tinta azul em qualquer farmácia ou loja que estivesse aberta à essa hora. Algo me dizia que eu tinha encontrado a felicidade.


Domingo, oito da noite e eu estou azul. Há dois meses venho acompanhando a rotina do homem azul em frente ao meu prédio. Há dois meses eu me pinto de azul.
Compro 4 tubos de tinta todos os dias para poder me pintar. Nesses canais de shopping, encontrei uma tinta especial que não irrita a pele, estão vindo 70 tubos de tinta azul, deste tipo, dos EUA para o meu apartamento. Quase não saio de casa. Minhas saídas acontecem quando o homem azul sai.
Ele trabalha num circo, tem 28 anos, não é casado, não trabalha fim de semana, não recebe visitas em casa, é feliz, sua pele é azul por natureza e eu o invejo por isso. Eu o amo.
Hoje ele chegou do trabalho e preparou seu jantar. Depois de ter comido, ele tomou banho, escovou os dentes e releu alguns trechos de livros.
Agora, o homem azul está sentado na janela com as pernas viradas para a profundidade da cidade. Para as ruas onde passam jovens empresários, prostitutas, camelôs, políticos, padres e mendigos.
Eu me desespero, abro a janela e grito que ele não deve se matar, que eu invejo a vida dele, que ele vive bem e que, pelo amor de Deus, não deve se matar!
Ele me responde que não acredita no que eu digo. Me diz que sua vida é fracassada, que é um tédio, que ele está cada vez mais apático às coisas ao seu redor, e que não vale a pena continuar vivendo daquela forma.
Ele pula.
Eu choro. Choro durante uns 5 minutos.
Vou até o banheiro tentar tirar a tinta azul do meu corpo, mas não sai. Já sou azul. Sou azul. Azul. Que grande merda!
Volto à janela e vejo o corpo azul caído, morto, sujo de vermelho. A minha vontade de pular a janela surge, me preenche. Estou de volta. Não me sinto mais azul.
Olho para o mesmo prédio na minha frente, observo um homem vermelho deitado na cama. Por que ele está tão tranquilo? Por que ele não se preocupa com nada? Como ele consegue?

Semana que vem, chegarão 10 tubos de tinta vermelha para mim.
Vou viver feliz novamente.


.fim


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