Querido diário, este é mais um dia como outro qualquer que já passou, ou virá a passar nesta vida de merda.
Acordo em alguma hora qualquer do dia, o Sol já está alto, a boca ressecada da bebedeira da noite anterior, o som ainda toca o CD, invariavelmente de Doom Progressivo, a banda é The 3rd and the mortal. Muitas vezes me pergunto, quem é o terceiro e quem é o mortal, será o terceiro anticristo e algum mortal qualquer, será que o teatro da tragédia nos trará a luz à resposta que poucos perguntam.
Por que tão sozinho? A voz operística grita clamando por uma resposta no vento, que talvez nunca seja respondida. As garrafas amontoadas em um canto dão alguma resposta, que não imagino qual seja. As baganas de vários cigarros amassados amontoam-se em um canto, fedendo como um cadáver em putrefação.
Tento imaginar porque ainda estou vivo, que droga de Deus é este que não atende meus pedidos de morte. Não quero mais estar aqui, quero voar, quero sentir o vento passando pelo meu rosto ao saltar de um prédio qualquer, quero sentir o frio aço de uma lâmina cortando minha alma.
A solidão de uma existência fútil, não se justifica. O sonho de uma ilha deserta não leva a lugar algum. A mulher amada é nada além de uma projeção ridícula. O vento frio da solidão que sopra durante a noite, trazendo o sentimento gélido que em momento algum aquece meu coração.
A cabeça lateja como se quisesse explodir, os sentidos giram sem parar, os olhos não suportam a claridade. Faltam muitas horas ainda para o Sol se pôr. Saio para a rua, com óculos extremamente escuros para ir a algum lugar qualquer que tanto faz. Escolho um parque onde famílias felizes (será????) passeiam alegremente pelas trilhas demarcadas, as crianças brincam, mas as lágrimas teimam em não vir. Acho que perdi a capacidade de chorar.
Espero a noite chegar, quase escuto um lobo uivando para ela. Engraçado lembrar-me dos lobos agora, porque a imagem que nós humanos fazemos deles é totalmente errada, na verdade eles formam uma unidade familiar quase perfeita, uns cuidando dos outros dentro de uma disciplina rígida, porém honesta. Aquele que abaixa a cola para o outro se rende, e sabe que não será atacado pelas costas.
Querido diário, enchi o saco por hoje. Volto amanhã. Tchau.