Usina de Letras
Usina de Letras
23 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62386 )

Cartas ( 21335)

Contos (13272)

Cordel (10452)

Cronicas (22545)

Discursos (3240)

Ensaios - (10442)

Erótico (13578)

Frases (50774)

Humor (20067)

Infantil (5484)

Infanto Juvenil (4802)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140863)

Redação (3319)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1962)

Textos Religiosos/Sermões (6231)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Um dia desses -- 19/08/2001 - 14:01 (Gabriel Valmont) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Suas pernas cambaleam a cada passo dado por ele. Gabriel tropeça quando tenta andar no asfalto molhado pela chuva que ainda cai do céu escuro da noite. Ele focaliza o estado final: a cabine telefônica, única fonte de luz daquela rua deserta e úmida.
Ele chora, chora pela dor que sente na perna. E tenta estancar o sangue com a força da sua mão.
Depois de muito cambalear ele se apoia na cabine e chora derramando suas lágrimas no vidro e no chão, umidecendo seu rosto sujo do próprio sangue.

Gabriel abre a cabine e se coloca lá dentro reconhecendo que ali era mais quente e mais confortável não se molhando mais com a chuva que caía lá fora. Pensa um pouco, organiza as palavras e tira o telefone do gancho para ligar. Disca o número e ela atende.
Sua amada. Aquela que o fez mudar de idéia de que não existe amor. Leila atende o telefone calmamente pois estava assim enquanto assitia a novela, mas o chamado do telefone a assustou assim que Gabriel pronunciou as primeiras palavras trêmulas:
-- Leila? -- foi estranho tanto para ela quanto para ele ouvir o nome Leila dito por uma voz sufocada e tremida. -- Leila? -- gritou.
-- Gabriel?
-- Leila!
-- O que houve, Gabriel? Você está bem? -- ela estava realmente assustada e curiosa para entender o motivo do aparente nervosismo na voz de Gabriel. Ela o conhecia muito bem para saber que as coisas não estavam muito boas.
-- Amor, paixão, minha vida, estou em perigo.
-- Por que?
-- Atiraram em minha perna, tudo aconteceu depressa, numa insanidade interior capaz de deixar até os mais fiéis dos padres tontos. -- Ele viu as imagens e as razões passar pela sua mente novamente e chorou mais ainda, entretanto não perdia a coragem de dizer para ela tudo o que tinha acontecido: -- Eu... eu cometi um erro, cometi um ato -- prende o choro -- irrecuperável.
-- Gabriel, qual ato? O que você fez? Calma e me diga -- nunca tinha acontecido isso com ela, quando se é a primeira vez basta apelar para clichês já visto em filmes ou livros. No entanto ela reconhece que viver o momento é muito mais visceral.
Ele olhou ao redor da cabine, a rua toda escura, as lojas fechadas, nenhum movimento. Olhou para cima e viu o céu negro onde gotas de chuva caiam. Viu o sangue na sua mão, sangue que veio da sua perna. Sentiu uma dor, uma dor tão forte que fez com que ele, por impulso, contasse toda a história que originou aquilo:
-- Eu bebi mais que o devido, querida. Eu bebi muito, muito. Na volta do bar, vim com um amigo, andando. Estávamos tão bêbados que pensamos em assaltar uma farmácia 24 horas.
Leila já começara a chorar do outro lado da linha. A novela na tv não tinha mais importância.
-- E roubamos, amor, nós roubamos! -- Gabriel gritou e chorou, caindo no chão da cabine telefônica, com a cabeça apoiada na mão e as lágrimas escorrendo pelo rosto ele continou: -- O Geraldo, meu amigo, tinha uma arma e conseguiu roubar outra de um dos seguranças da farmácia. Ele me deu e miramos contra os funcionários e clientes da farmácia. Roubamos 600 reais, tudo numa sacola, tudo na porra da sacola.
-- Meu Deus, querido, por que? Onde está a sacola?
-- Não interessa, interessa que eu disparei a arma.
-- O que? -- Leila se desesperou, levantou-se do sofá onde estava sentada e pos-se de pé. As coisas iam piorando aos poucos.
-- Eu atirei! Eu atirei numa funcionária da farmácia! Eu atirei! Sou um demônio por causa disso, acertei no peito dela, amor, acertei no meio do peito dela. -- Ele bate a cabeça contra o vidro tentando se reprimir pelo ato. -- Porra, vi o sangue explodir de dentro dela. Geraldo me puxou para corrermos, e quando já estávamos à uma distância considerável, um outro segurança acertou minha perna e eu cai no chão.
-- Você está bem? Como está a sua...
-- Eu não consegui me levantar durante alguns segundos, eu não consegui sentir nada durante alguns segundos. E foi aí que começou a chuver. Eu olhava para o céu escuro e via as gotas caindo no meu corpo, via o sangue ser derramado no asfalto. Geraldo fugiu e me deixou ali deitado e recuperando minha sóbriedade pela complexidade dos fatos.
Leila já estava impaciente. Chorava de preocupação, ela não sabia o que fazer. Já tinha dado milhares de voltas pela mesa e tentava entender o motivo de tudo aquilo ter acontecido.
-- Onde você está agora, Gabriel?
Ele olha para um lado e olha para um outro, Gabriel não consegue disfarçar um sorriso da sua própria situação.
-- Eu.. eu -- olhou mais uma vez -- não sei.
Pausa.
Eles não sabiam mais o que falar, apenas refletiam sobre o absurdo do que tinha acontecido.
Gabriel olhou mais uma vez para o lado e viu um carro da polícia chegando. Depois mais outro. Dois políciais saltam de cada carro e de dentro de um deles sai o segurança que acertou sua perna.
Ele levanta-se lentamente sentindo uma pontada na perna causada pela dor do tiro. Ainda com o telefone na orelha, ele olha para os policiais. Retira de dentro da sua calça a arma, o revólver o qual ele usou para matar uma pessoa. E por lembrar disso tudo ele tremia, ele chorava, ele se sentia o próprio absurdo.
-- Eu te amo, querida.
Ela parou de andar. Caiu-se sentada no sofá e sorriu.
-- Eu também te amo, amor.
-- Eu te amo muito, viu? Viu? Te amo muito! -- suas palavras se embolavam com o choro e as lágrimas que ele engolia.
Leila respondia também chorando de amor e desespero, ela precisava de um socorro como ele.
-- Eu te amo tanto, tanto, tanto, querida. Muito. E para sempre vou amar.

Os policiais se aproximaram da cabine.
Gabriel ainda chorando e balbuciando algumas palavras apontou o revólver para a sua cabeça. Olhou para o céu, para a chuva que caia daquela escuridão.
Disse suas últimas palavras: -- Leila, meu amor, Adeus.
E disparou a arma.
Gabriel caiu dentro da cabine, os policias correram para tentar socorrer mas não adiantava.
Leila gritou compulsivamente no telefone. Pensou que talvez assim ele pudesse ainda ouví-la.
Mas Gabriel já estava morto com o seu pecado.
E Leila estava viva sem o seu amado. Mas sabia que por pouco tempo.

Dias depois, os corpos dos dois amantes eram enterrados no cemitério. E o caso ficou conhecido como o Suícidio Amoroso, de dois amantes que se mataram por não suportarem suas condições pessoais.
Mas muitos ainda dizem que Gabriel e Leila... devem estar juntos em algum lugar.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui