Acidente na avenida. Dois carros acabados. Uma morte.
-Morreu mesmo, a mulher. É até bonitinha né?
-Parece jovem, perece jovem... coitada.
Maria observa o diálogo, ao mesmo tempo tentava ver o corpo por cima dos ombros. Olhou, tremeu. Um choque. Seu pai saía do carro numa maca, do outro lado sua irmã, morta.
Maria era a mais jovem da irmãs. Via Joana, a mais velha morta dentro do carro, com muita admiração. Tal fato fizera lembrar a morte de Rita, há anos atrás, e ela não havia chorado. Queria sair dali, fazer qualquer coisa. Quis ligar pro namorado, queria consolo, queria gritar... chorar não, nunca aprendera a chorar. Quando se entristecia gritava, cantava, falava muito.
No entanto, uma sensação impertinente e inquietante de ipotência invadiu-a por completo, inconsolável, ipotente e extremamente frágil, ela iria informar à família. Fora ela, sempre a mais fraca das irmãs, a ´´manteiga derretida``, como sempre a chamavam. E foi pra casa.
Chegando em casa, viu logo sua mãe na cadeira de roda, onde sempre estava, na mesinha, com a máquina de escrever, inseparável. Quando a viu, dona Sônia logo estranhou sua expressão desesperada. Quando ia falar o acontecido, o telefone toca, é do hospital, Maria observa o rosto de sua mãe. As lágrimas caindo, recebera a notícia, se sentiu pior.
Perdeu o pai, perdeu as irmãs, e com a mãe a beira da morte iria ficar só. Na vida, em tudo. O namorado ligou. Palavras inúteis de consolo. Ele não sabe o que ela sente, ele não sente nada, ela sente tudo. A vida passava por flashs. A sua mãe dormira. A casa calou-se, o mundo parou. A vida parou, os sorrisos pararam. de repente viu o som desligado... ligou-o. Colocou radiohead, bem alto, pulava, chorava, pela primeira vez. A música fluía. E ela gritava com a música.
Obs: Com Artur e Lucas Alencar. |