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Contos-->Vivendo a vida -- 03/04/2010 - 13:45 (Fabrício Sousa Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Vivendo a vida
Por Fabrício Sousa Costa


“E se não existir Deus? Não! Existe Deus. Sem ele não teria saída”. Danusa não queria conflitos existenciais. Pelo menos naquele momento. Sua saída seria a credulidade. A angústia pela qual passava. Danusa não passou pela angústia. Ficou presa na própria angústia. A vida dependia do exato momento. Sentimento ou razão? Seria a única possibilidade. Sobreposição do sentimento à razão. Felipe sentimento, o esposo razão. Comodidade. Talvez fosse apropriada. “Manter um lar com um sopro dos dois personificado pode ser cômodo, porém até quando viver por viver?” Danusa chegou à conclusão. O céu noturno brasiliense. Seria eleito, no silêncio, companheiro. Necessitava de um, naquele momento.

Sob o céu, Felipe e Danusa foram cúmplices um do outro. Os momentos foram testemunhas. Anos de admiração. Silenciosas promessas. Distância da realidade. “O que é realidade”. Para ela não passava de mera convenção. O certo foi escolhido. “Não posso crer que sou passiva”. Ir ao encontro é doloroso. Na realidade, a distância entre os dois sempre foi grande. Próxima. As próximas férias estavam à 1.800 km. Tão longe e tão perto. O envolvimento os unia na distância. Os dois aceitavam inconscientemente. Sabiam que ainda possuíam uma vida pela frente. Vivenciavam os momentos a passos curtos. Ambos não compreendiam que o tempo poderia ser um grande opositor. Lógico. O lógico perdera a clareza. Claramente celebravam os acontecimentos despreocupados com o mundo. O giro do mundo nunca deixaria de ser perfeito. “Haverá sempre uma ligação”. “Sempre estaremos, eternamente”. A vida é outra realidade.

Boca sem boca incompreendida pelo tempo. Representado pelo semideus Hermes. A boca vazia não representava a realidade. Nem sempre se pode compreendê-la. Felipe tão manipulado pelo sentimento. Danusa tão arredia de ilusão. Uma história havia se formado. Duas vidas forma marcadas. Com consentimento. Talvez divino, quem sabe? Deus! Deixava que cada um fizesse sua história. Embora soubesse que a fariam mal feita. O tempo, imperdoável. Destruidor de vidas. As duas deixariam essa condição. Felipe/Danusa! Contraste lógico. Apostaram na estaticidade do tempo. O tempo não era o culpado. Nunca concretizaram a lógica do sentimento. Concretizaram o sonho com muita massa. Intransponível barreira. Construíram a própria desgraça de suas vidas. Qualquer testemunha expressaria indignação diante dessa historia. As lembranças seriam o fel da vida. Martírio. Martério. As pancadas doíam como as cabeçadas dessa época, uma década não foi suficiente para registrar essa história. Havia muito subsídio para a lembrança marcá-lo durante a vida.

Outras histórias misturavam-se à principal. Tudo corria naturalmente. “Não se pode parar em função de uma história”. Mas a história poderia pará-los constantemente. Danusa, mais fria e potente diante da força do sentimento. Independência. Buscava-a intensamente. Não achava justo deixar a vida por conta de apenas uma história. Decisão. De↓cisão≠. Rompeu com o passado. Ancestral poderoso do tempo. Efetivamente não poderia rompê-lo. Então pediu tempo ao tempo. Foi pretensiosa tentativa. Outra história foi iniciada. “Quiçá consiga gravar um filme sobre outro”. Tentativa. Foi ativa ao tentar. A ação rendeu-lhe um filho. Danusa conseguiu unir sua história à do esposo. Outra história surgiu. Mal contada surgiu a história.

Fugir às convenções era sua bandeira. Entretanto, Danusa rendera-se de vez a seus ideais. Passara alguns anos concretizando a história passada. Não desejaria que se desenterrasse. Rendera-se a um pseudoamor. Novos momentos. Filosofia acerca dos sentimentos humanos. Procurava explicação para o amor. Não cria mais nele. Refrescava suas incertezas quando questionava o amor. “Amor de verdade só se for a dois”, ouvira Cazuza conversar consigo. “Que seja eterno enquanto dure”, mais ligada era a clareza de Vinícius. “Nosso amor a gente inventa”, fazia coro novamente com Cazuza. Talvez por meio dessa auto-sugestão pudesse assumir o controle de si. Danusa temia encarar o trânsito da vida. Entretanto, vivenciara a idéia da criação do amor. “Cheguei à independência da ferida de um passado mal resolvido”, suspirava Danusa com um ar de intelectualidade. “Amor é criação e paixão é doença”, curara-se do mal remediável – razão sobreposta ao sentimento. Talvez tenha sido o início de um fim.

Apenas testemunha, não guarda surpresas. O tempo presenciou a chegada de Felipe. Questão de tempo. Tempo para concretização das teorias de Danusa. Qual seria a resposta de Deus? Um ser superior. Para ser superior, precisa ser onisciente. Sim, poderia saber tudo o que se passa. “Que história é essa de não interferir no processo natural das coisas”, questionou o destino personificado. Mas o ser superior assistia a tudo torcendo pelo tempo. Este agia mecanicamente impassivo a tudo. Restavam apenas os dois sob um cenário metafísico. A dúvida existencial com a qual Danusa deparava-se somente poderia ser resolvida por elementos físicos. O encontro seria inevitável. Evitou enquanto pôde. Agora a realidade bate à porta. Da alma. Apenas resquícios do concreto do tempo. Não pode mais vedar a realidade. Irrealidade deixara de reinar na unipolaridade. A voz de Felipe libertou as lembranças da prisão do tempo. Novamente o conflito existencial remoera o passado cheio de grandes novidades. “E se não existir Deus, a quem recorrer?”


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