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Contos-->O Cuco Maluco -- 13/07/2006 - 23:20 (FAFÃO DE AZEVEDO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Naquela noite havia algo de estranho com o relógio cuco da sala de estar. Logo depois que soou a décima segunda badalada (ou, no caso, cucada ) e antes que o mecanismo do aparelho tivesse tempo de fechar as portinholas que se abriam a cada sessenta minutos, o passarinho que saltava do seu ninho para dar as horas bateu asas e voou...
...voou pela janela que encontrava-se aberta, perambulou pelo jardim da praça, desviou de duas estilingadas da molecada e foi pousar num galho da árvore da esquina. Porém seu descanso não durou muito, pois logo teve que bater asas novamente para escapar do bote do gato do botequim. Com o coração aos sobressaltos já estava quase arrependido de ter ousado abandonar sua casa mas se não o fizesse tinha certeza absoluta que entraria em crise nervosa. Já estava cansado da escravidão do Tempo.
Agora seria livre. Viveria perigosamente, sim, mas qualquer coisa era melhor do que aquela monotonia, aquela solidão do interior do relógio.
Fascinado com toda aquela paisagem, saiu esvoaçando por todos os cantos até que se deparou com uma banca de revistas, aproveitando para pousar no fio elétrico em frente às manchetes dos jornais e ali ficou se inteirando das últimas notícias do mundo.
Só se falava da Copa do Mundo na Alemanha... a grande festa do esporte nacional. E a Seleção Canarinho era a favorita! “Seleção Canarinho? Opa!”... Ao ler essa frase ficou eletrizado e caraminholas começaram a brotar na cabecinha daquele pássaro de madeira ávido de aventuras: “e se eu me pintasse de amarelo e pegasse carona com a turma desse tal Parreira?”
Dito e feito. De imediato o Cuco Maluco travestiu-se de canário e se embrenhou nas matas do Parque Nacional da Serra dos Órgãos pois tinha a informação de que os jogadores estavam na Granja Comary, em Teresópolis. Chegando lá, se insinuou de mascote criando logo amizade com alguns jogadores e, principalmente com o pessoal da Comissão Técnica. Dias depois embarcaram todos para o Velho Continente.
Chegou lá com pose de melhor do mundo. Se alojou numa gaiola quadrada com uma porta mágica que se abria a qualquer hora quando ele bem entendesse, bastando para isso, mostrar as penas da asa direita - maravilhas da tecnologia do primeiro mundo! – tudo muito diferente do antiquado relógio onde morava.
Logo nos primeiras dias saiu para as noitadas nas boates germânicas, bebeu muito chope com salsichão e conseqüentemente ganhou uns quilinhos. Nada que comprometesse seu charme junto às outras aves que participavam da farra. Fazia um sucesso enorme sobretudo com as galinhas!
Quando do início da competição, logo na primeira partida, a platéia notou que aquele canário não voava bonito como era de se esperar... o que teria acontecido? Suas asas estavam desarticuladas com movimentos imprecisos. Também pudera!... eram asas de pau... e não só as asas, o corpo e as pernas também, só que ninguém ainda suspeitava.
Mas logo começaram as desconfianças vindas da turma da imprensa nas entrevistas coletivas. Um jornalista chegou a comentar quando ele se negou a dar informações sobre a escalação do time: “Esse canarinho é mesmo muito cara-de-pau!”
Sem ouvir as críticas, sua pose continuava. Afinal o importante era o resultado... e já haviam vencidos quatro jogos... a taça era nossa... somos recordistas... Ronaldo bateu o recorde de gols e Cafu de participações em Copas do Mundo. Pra que jogar bonito? Eu quero é fazer bonito...
Mas aí... entrou em campo o Galo Francês e deu uma baita bicada no falso canário, que saiu da rinha definitivamente desmascarado, para morar novamente em seu relógio burocrático de onde nunca deveria ter saído.

Moral da história: Não há FARSA que resista ao TEMPO.

Rio de Janeiro, 4 de julho de 2006.
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