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Contos-->O gerente e o cachorro -- 23/11/2000 - 00:28 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O GERENTE E O CACHORRO

O gerente saíra às 08:30 da noite, revoltado com aquela terça feira de agosto. Perdera na compensação, discutira com o colega, recebera reclamação de metas nåo alcançadas, enfim tudo errado. Antes de sair, pensava intimamente a vida de cachorro que levava para sustentar o padrão de " Gerente de Banco ".Amanhã ou depois, estaria numa casa de saúde, vítima de enfarte e seu patrimônio fora para o beleleu. Quase disposto se achava a abandonar tudo e fugir até uma praia distante para ser pescador. Pela manhã, engarrafamento, estacionamento, poluição, clientes chatos, enfim, todas as choradeiras do mundo a seus pés.
Além dos clientes os superiores: mais depósitos! mais negócios! mais ações! mais isso! mais aquilo! menos funcionários! menos despesas! menos salários! - um inferno. Iria abandonar tudo. A vida de tensão o obrigaria a chegar aos 50 antes dos trinta. Nunca mais fora ao cinema com a mulher, nenhuma distração. Só televisão, novelas, propagandas de sabonetes, de bancos, do governo e de até
como deveria viver. "MEXA-SE"!.
Queria sossego, descanso, paz. Nada de buzinas, ar condicionado, máquinas, computadores. Uma ilha, um barco, a garrafa e a mulher! Que sonho! Que sol! - acordou dos seus pensamentos assustado. Estava ainda no Banco e eram 20:30hs . Cartas, relatórios, vistos, amanhã! Boa noite, até amanhã. Falou aos retardatários.
Pegara o elevador no último instante. Passara quase todo, mas o paletó, coitado! parte ficara na måo e o restante enganchou no elevador. Alguns palavrões e já estava na calçada da Rua da Concórdia com destino ao estacionamento, com o farrapo pendurado às costas.
A rua já se achava um pouco deserta. Ouvi um assobio, olhou para traz. Bum! Bateu com a cabeça no poste. Palavrão, blasfêmias e seguiu em frente. Uma caixa de televisão no seu caminho. Chutou! Aí! - Estava cheia de caliça. Cabeça cheia, paletó rasgado, mancando. Nåo suava mais. Saía ódio pelos poros. Parecia que acabara a guerra e nåo o expediente. Em casa provavelmente brigaria com a mulher para terminar o dia.
Em sentido contrário, vinha um cåo que a policia estava usando para ronda noturna. Conseguira escapar do soldado e correra atras de um vira-lata perdendo-se em seguida.
Na sua mira o esfarrapado gerente se aproximava, falando só, contra tudo e contra todos. Atmosfera de fluidos raivosos, carregada. O canino partiu para o ataque. O gerente defendeu-se com o resto do paletó. Cobriu a cabeça e deu-lhe uma gravata com toda raiva acumulada. Rolaram calçada a abaixo. O cåo rosnava sentindo falta de suas forças. Suas unhas furavam a carne do gerente, mas a garganta cada vez respirava menos. O gerente sentiu que o cåo estava em desvantagem e usou todo o seu ódio concentrado. Apertou mais, mais! mais! - Seus dedos da måo direita encontraram-se com os da måo esquerda. Balançou o pescoço para um lado e para outro, num verdadeiro
festim da morte. Agora já estava de cócoras, pisando, batendo, rasgando, rosnando, parecendo ser o cachorro em vez do gerente. - No delírio, ouviu uma voz - Moço! moço! o cachorro está morto! Vá embora que ele é do governo! - Matei e mato! pode ser até o governador! mordeu, morreu! - Está preso! disse o soldado que por fim encontrara seu ex-cåo. - Ainda com os olhos brilhando, o corpo arranhado, sangrando, virou-se para o soldado e disse:
É seu! - É nåo senhor! disse o guarda reconhecendo que nåo estava tratando com um marginal. - É da polícia. Fugiu de minha måo. O senhor espere aqui, que vou telefonar para o quartel.
- Saiu em disparada para telefonar.
- Aqui é o soldado Silva!. Quero falar com o oficial do dia.
- Prá que?
- Mataram "Governador" aqui na rua da Concórdia!
- Quando?
- Agora! mande uma guarnição que o assassino é louco.
Foi dado o alarme. Saíram várias guarnições, o comandante trêmulo falou sozinho:- Como é que o Governador sai sozinho para rua aquela hora? Nåo é possível! Isso deve ser trote. Confirmaram a notícia? Perguntou ao motorista?
- Nåo senhor.
- Ligue para o Palácio!
- Aqui C-1, comandante quer falar com o oficial do dia
- Aqui P-1, pode falar.
- Que história é essa que S/Excia. foi assassinado na rua da Concórdia?
- Comandante! Sua Excia., acaba de sair de uma reunião. Que boato foi esse?
- Obrigado, desligo.
No local do canicídio, uma praça de guerra. Luzes piscando trânsito engarrafado, dezenas de soldados com metralhadoras, polícia técnica, etc.
No meio do pandemônio, o cåo estrangulado, o gerente ensangüentado e a pequena multidão comentando o tragicômico ocorrido.
Final da história. Era uma vez um pastor alemão chamado" Governador".
Sua Excia., ao tomar conhecimento do ocorrido, baixou um ato proibindo o nome de cargos públicos aos cães policiais. Na assembléia no outro dia a oposição aproveitou para falar no caso do governador cachorro. O gerente foi punido com a vacina e 6 meses sem Whisky, mas ganhou 15 dias descansando numa " ilha " distante.

Mauro de Oliveira

Nota: Escrito na época de Moura Cavalcanti. O ataque do cåo
foi verdadeiro. O revide também. Só nåo houve mortos e
feridos.
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