Tudo por causa dessa dor de cabeça ou até por causa dessa casa que já desaba seus trapos em cima de mim. No outro quarto tem uma pessoa que desmonta as coisas e empacota as roupas. Ela diz não saber o porque de tantas tralhas guardadas. Acho que é porque quando nos mudamos para algum lugar, achamos, realmente, que essa será nossa casa para sempre. Por isso não tenho onde colocar tanta coisa. Quadros, livros, gravuras? Irão para um destino incerto amanha.
A outra pessoa chora desesperadamente enquanto escreve seu nome nas caixas que irão embora. Eu apenas fico nesse quarto esquisito que mostra minha cara em cada pedacinho dele. Seria justamente insano recorrer à outra maneira e não sair daqui? Sabe o que é? Já fiz mil tentativas de deixar o apartamento e nunca consegui e aqui estou por 7 longos anos. Só que já cansei de ser abandonada por certos lugares. Nunca deixo... sempre fico. Não deixo uma amiga que chora, nem um cão que late, nunca deixei de formular uma boa frase para as horas que preciso, mas vou, sim... deixar tudo isso aqui...porque esse lugar já não tem como estar.
Ainda poderei ser encontrada em algum lugar, esteja certo. Ainda correrei para sua casa e contarei sobre a historia que inventei sobre aquele cara que vi na praia. Ou mesmo aparecerei com bilhetes para o cinema da esquina, onde não há quase ninguém e podemos colocar os pés para cima e gargalhar alto. Passarei perto do seu trabalho na hora do almoço e te buscarei para a visita no museu do Centro onde veremos quadros velhos com os olhos de novos.
Mas, querido, não chore. Porque eu não vou chorar. Nem vou lamentar por toda essa lamuria de trocar casas. Troquei de namorado, de amigo, posso muito bem trocar de lugar. Então, não chore, não por mim e nem por saudades minhas.
Apenas, não chore...