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Artigos-->Números são números -- 14/11/2000 - 23:42 (Mauro de Oliveira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Números são números, nada mais que números.....





Há mais de vinte anos que ao deitar, costumo fazer as contas do Brasil antes de rezar e pedir a Deus que se compadeça dos brasileiros. Devo ser um mal Cristão, porque toda noite o nosso déficit tem aumentado em minhas contas.



Lembro-me quando o rombo era uma criança e minha maior preocupação era a maldita inflação. Há vinte anos o garoto era de apenas U$ 50 bilhões. A inflação galopava pelo salário dos brasileiros e o déficit público começava a chegar a idade adulta. No princípio não me incomodava muito, porque a inflação era a minha preocupação e também a minha atividade diária. Lembro-me que consegui até a ganhar dinheiro com a maldita. Mesmo assim, sonhava em poder comprar o pão nosso de cada dia pelo mesmo preço todos os dias do ano.



Depois de vários anos, o que tanto esperava chegou. O plano Real me fez aliviar uma série de problemas. Deixei de estocar comida, roupas, eletrodomésticos, aplicações de curto prazo e pequenos investimentos que um classe média faz normalmente para se defender da inflação.



Foi-se uma preocupação, veio a outra. Agora o bicho era os juros que se estava pagando com a estabilidade. Quando vi o dólar baixar de 1 real, e o mercado financeiro pagando juros de até 65% ao ano(no início do plano real), comecei a fazer outra conta. Nossas reservas cambiais chegaram a 75 bilhões de dólares. Esse dinheiro no entanto não veio para ficar. Chegava, pegava o juro e ia embora. Voltava na semana seguinte e retornava com mais juros. Quem estava pagando os juros ? - A viúva, caros amigos. E como?- emitindo papeis de curto prazo, e aumentando nosso déficit escritural ou déficit público.

Logo surgiram as idéias das reformas. Reforma da Previdência, do Judiciário, Administrativa, Eleitoral, etc. A principal e primeira a ser efetuada, nada. Sim, a primeira deveria ser a tributária e fiscal. Ou seja, primeiro deveríamos saber o quanto ganhamos para depois saber o quanto poderemos gastar. Em vez disso, primeiro procuramos saber quanto gastamos e depois fomos procurar receita para cobrir as despesas. Foi assim que muitos da iniciativa privada quebraram e a classe média se esfacelou. Aprenderam com o governo e com a inflação.



Diariamente fazia a conta das reservas em dólar e da dívida interna, e avisava a meus consultados que em futuro próximo a bomba iria estourar. O pais não crescia, as exportações não superavam as importações, e o dinheiro "quente" elevava a Bovespa para estratosfera. Chamaram-me de terrorista, pessimista e outros adjetivos menos suaves. Começaram a chegar as crises internacionais e entramos de cabeça nelas. Seguiu-se então a saraivada de pacotes, e reformas pela metade de tudo que deveria ter acontecido na época das vacas gordas. Muito tarde. Agora enfrentamos um congresso que congrega a maior massa de egoísmo e interesses pessoais que já se viu na história deste país. Os partidos da situação entraram em luta encarniçada pelo poder e a oposição se aproveita para se juntar aos desencantados e procrastinar todas as medidas urgentes que têm que ser aprovadas. Os três poderes entram em luta quase corporal. Entre cada poder há desentendimentos explícitos e públicos. Partidos procuram extorquir do executivo parcelas do poder. No Plano Plurianual, (PPA), ouvi Deputados falar em cifras de 1 trilhão que seria administrada pelo Ministro do partido A, B ou C. A maneira como o problema chegou ao público, foi como se essa imensa quantia fosse ser dividida para os partidos e não para o país. Em suma uma baixaria de primeira grandeza.



Segundo dados econômicos de revistas e do governo, nosso PIB beira os 800 bilhões. Segundo ainda essas informações, as receitas federais, estaduais e municipais, arrecadam 35% do PIB, ou seja 246 bilhões. Já o Secretário da Receita Federal, afirmou que para cada R$ 1,00 arrecadado, existem R$ 2,00 sonegados, o que representa fábula de 493 bilhões. Se isso é verdade, e todos sonegadores pagassem seus impostos como manda a lei, o país arrecadaria 739 bilhões de reais por ano, ou seja 92% do PIB. Aí cabem algumas perguntas:



a) Qual o investidor interno ou externo que investiria seu dinheiro para ter uma margem de 8% para comprar matéria prima, pagar seus empregados e ainda levar uns 0,00001% para casa ?

b) Nos antigos países comunistas a margem não seria um pouco maior ?

c) Será que a sonegação é realmente nessa proporção ?

d) Onde o secretário foi buscar esses números ? (ver quadro abaixo)



RECEITA em Bilhões

PIB ARRECADAÇÃO SONEGAÇÃO SALDO PIB

795,1 246,5 493,0 55,7



Outro aspecto a ser comentado é a evolução de nossa dívida interna e externa. Se continuarmos nessa balada daqui a 12 meses estaremos com a dívida maior que o PIB. Hoje nossa dívida interna e de 495 bilhões e a externa de 288 bilhões. A interna pagamos juros de 19% aa., a externa de 5,25%. Em doze meses o principal mais juros das duas dívidas alcançará a cifra de 892 bilhões, enquanto que o PIB crescendo 3% no ano 2000, chegará a 819 bilhões ou seja 73 bilhões menos que vale tudo que se produz no país. Em outras palavras só vai sobrar o terreno e a população.(ver quadro abaixo)



DESPESAS CORRENTES

DIVIDA INTERNA JUROS 19 aa. JUROS MENSAIS ACUMULADO PIB EM 99

495 94,1 7,8 589,1 795,1

DIVIDA EXTERNA JUROS 6 aa. JUROS MENSAIS ACUMULADO

288,5 15,1 1,3 303,6 PIB EM 2000 DÉFICIT PIB

783,5 109,2 9,1 892,6 819,1 -73,5



Junte-se a isso as demais despesas do país, tais como Previdência que nos deixará outro de déficit de 30,6 bilhões, mais as despesas com saúde, educação estradas etc. Uma coisa é certa, não podemos gastar mais que os 246 bilhões que arrecadamos. Como viabilizar é outra estória. Mas para começar, devemos eliminar o desperdício que á causa primeira de tudo que esta acontecendo. Há desperdício de energia, água, papel, inteligência do governo e do povo.

Uma reforma no Judiciário, limitando o processo a três instancias e somente sobre o mérito, aprovação da súmula vinculante, informatização da justiça em todos os níveis, seriam formas de evitar o desperdício de milhares de horas de trabalho dos juizes e daqueles que dele necessitam, ocasionando uma economia de bilhões de reais.

No poder Legislativo limitar o número de Senadores para 25, Deputados Federais para 250, Estaduais para 25 e Vereadores para 10. Limitar ainda o numero assessores parlamentares para 3 em todas as instancias.

No Poder Executivo limitar o número de Ministro para dez, Secretários de Estado para dez e Secretários Municipais para cinco.

Essas providências nos daria uma economia de 100 bilhões, se evitaria o desperdício, e país andaria fora dos caminhos burocráticos e cartorários.

São idéias, são números, são atitudes, são pensamentos, são absurdos, são uma série de adjetivos que se todos os brasileiros começassem a pensar no assunto, poderíamos alcançar soluções para o impossível.



A dança dos números é fascinante e criticar é mais fácil do que elogiar, mas será que o problema do país não é a falta de faturamento (crescimento)? - De que adianta aumentar a carga tributária ou continuar com a mesma se o excesso de impostos aumenta a recessão e o desemprego ? - Sabemos que a recessão provoca a queda do PIB e por conseqüência, produzimos menos, exportamos menos, importamos mais e governo arrecada menos impostos. Com isso tomamos mais empréstimos, pagamos mais juros e aumentamos a bola de neve. Se diminuirmos os juros e os impostos, a produção aumenta, a dívida pára de crescer e provavelmente a arrecadação deverá aumentar lenta e gradual, proporcionando ao governo se reabilitar na mesma velocidade. Fica claro no entanto, que a reforma tributária deve ser o ponto de partida para qualquer solução neste país. Deverá ser simples e objetiva. Dos 52 impostos e contribuições, deverão ser reduzidos para seis ou oito no máximo. Os pagamentos dos impostos deverão ser simples e inteligíveis para qualquer cidadão. O total de todos impostos não deverá ultrapassar a 25% do PIB.

Enquanto a reforma não vem, a dança dos números falsos ou verdadeiros continuarão, mas não façam como eu e alguns brasileiros, que perdem o sono tentando decifrá-los. "Justo Veríssimo" dizia: Palavras são palavras, nada mais que palavras. Parodiando-o digo: Números são números, nada mais que números.



OLINDA, 12/10/99

Mauro de Oliveira

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