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Artigos-->Silvio Santos ou Sylvia Saint? -- 17/05/2002 - 13:17 (Lindolpho Cademartori) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Silvio Santos ou Sylvia Saint?



Por Lindolpho Cademartori







“ Silvio não se proporia a macular a própria reputação no intuito débil de se confrontar em um tribunal com um jornaleco do interior do Arkansas ou algo do tipo e com uma atriz pornográfica cuja lista de parceiros sexuais tem mais nomes do que o catálogo telefônico da Grande São Paulo.”







Devo dizer que, desta vez, a confusão foi geral e proverbialmente esculhambada. Já havia presenciado diversos tipos de mal-entendidos e erros de informações, mas, por Platão!, essa foi demais. Confundiram o Silvio Santos com a Sylvia Saint. E eu não disse mais nada. Fiquei ali, parado, soturno e sorumbático, introspecto, milhões de idéias sarcásticas e deslocadas a fluir no espectro da consciência. Calei-me. E refleti. Como refleti. Em verdade, mais do que devia.

Sylvia Saint, se o leitor não sabe, é uma das mais famosas e, por assim dizer, “renomadas” atrizes pornográficas dos Estados Unidos. Estrelou diversos filmes rotundos e picantes, em que o sexo e tão-somente ele engendra todo o contexto . Não há enredo. Tampouco personagens. Nem pense em diálogos. É lascívia e luxúria puras e destiladas, pintalgadas por alguns grunhidos e gemidos ressonantemente guturais e cômicos. Para os que apreciam, trata-se de uma boa pedida. O que, palavra, não é minha seara. Não mais.

O mote do assunto, porém, residia na minha magna-dúvida tangente à razão pela qual Silvio Santos havia sido confundido com Sylvia Saint. Ocorreu num jornaleco, um periódico descartável de uma currutela do meio-oeste dos Estados Unidos. Erroneamente, os pitorescos e desinformados editores do jornal trouxeram à baila a infeliz notícia de que “Sylvia Saint, o mais carismático apresentador televisivo brasileiro, está em vias de ser processado pela Endemol, a rede holandesa detentora dos direitos autorais de programas nos moldes de Casa dos Artistas e Big Brother Brasil.”. Eu, bem como creio que também o leitor, não acredito que haja ocorrido qualquer sorte de erro de diagramação ou tipográfico. Poderiam muito bem ter incorrido na gafe de grafar “Silvio Saint”, ou até mesmo “Silvio Insane”. Mas não Sylvia Saint; de maneira alguma, confundir o nobilíssimo pretenso a sucessor de Vargas na pecha de Pai dos Pobres com uma ignóbil e vulgar atriz pornográfica de origem tcheca (sem qualquer trocadilho maldoso. Sylvia Saint é mesmo tcheca.). Exorbitou a pauta do tolerável! Mas e quanto a Silvio? O que ele irá fazer?

Muito provavelmente, nada. Silvio não se proporia a macular a própria reputação no intuito débil de se confrontar em um tribunal com um jornaleco do interior do Arkansas ou algo do tipo e com uma atriz pornográfica cuja lista de parceiros sexuais tem mais nomes do que o catálogo telefônico da Grande São Paulo. Observar-se-á, porém, que as razões pelas quais cremos – ou creio – que Silvio não irá se manifestar não dizem respeito somente ao fato de que o desentendimento em si não vale a pena. Silvio também tem seus ensejos de hesitação conscienciosa. E como o populacho escrachado, o ordinary people tapuia sem nenhum glamour, diverte-se mesmo é com a especulação lauta e vulgar, prossigamos, ora! Especulemos!

Com efeito, as especulações e a pilhéria de chafurdas e esculhambações logo deram o ar da graça. Laureados por seus autores, em geral intelectuais – alguns nem tanto -, os comentários se adiantaram em hipóteses cínicas em sem o menor embasamento teórico-factual. Um articulista de renome - e suposto Ph.D em filmes pornográficos - afirmou que Silvio Santos não deveria ter sido confundido com Sylvia Saint, e sim com um suposto indivíduo que atende pela esdrúxula alcunha de Buttman (algo como “Homem-nádegas”), em razão de suas mais recentes atrações serem temperadas com elementos calientes e luxuriosos, os quais não deixam nada a dever às irreverentes produções do Homem-nádegas. Talvez o nobre articulista estivesse se referindo às tórridas seqüências de Casa dos Artistas, ou até mesmo a atrações como a intrigante Banheira do Gugu, que num passado não muito distante figurava entre os maiores trunfos do bisonho império de Silvio.

Em verdade, deve-se dizer que o propagador do boato – ou do mal-entendido, da sabotagem, o que seja – logrou êxito em sua esculhambada empreitada. Sob determinados aspectos distintos, porém. Silvio não ficou ridicularizado. Tampouco foi desmoralizado. A notícia sequer chegou aos jornais brasileiros e não me recordo de uma única rede televisiva – incluindo a do highlander Roberto Marinho – que tenha veiculado a informação por meio de seus noticiários. Silvio, como de praxe, preservou a altivez e a indiferença em relação às picuinhas insossas e cretinas. Mas tenho lá minhas dúvidas...

Nada, seja de ordem concreta ou abstrata, transcorre de maneira incólume e sem alterar a dinâmica que trespassa. Por óbvio, Silvio tomou conhecimento do fato. Não pode ter simplesmente desprezado-o, de uma maneira crassa e leviana. Tomou-lhe, quem sabe, um ou dois minutos do precioso tempo de novecentos milhões de reais. E tomou também o meu tempo, que, embora não valha um único tostão furado, irrita-me quando contemplo-o absorto em questiúnculas sem qualquer relevância factual.

Confesso, porém, em tom de mea-culpa, que fiquei um tanto apreensivo. Contrariando minha pauta de princípios, passarei a assistir Silvio Santos com certa regularidade. Muito embora eu o ache um cretino aproveitador e dissimulado, acompanhá-lo-ei, a partir de agora, em suas aventuras televisivas, em sua sapiência cabal e inconteste, tão soberbamente ilustrada em seu sublime Show do Milhão, e em sua personificação de Don Vitto Corleone quando dá as caras lá pelas bandas da Casa dos Artistas. E espero poder vê-lo sempre, sorridente e descontraído, cretino e dissimulado. E com roupas. Ao contrário de Sylvia Saint.



Lindolpho Cademartori

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