Quem ganha?
Marcelo Rodrigues de Lima
Luiz Paulo Conde, prefeito do Rio de Janeiro entre 1997 e 2000, em recente artigo publicado na Folha de S. Paulo, questiona a condição do professor hoje no país. "Como explicar que um governo formado por professores tenha deixado a situação chegar ao ponto em que chegou?", pergunta.
Mas a resposta está mais próxima de ser encontrada do que Conde imagina, já que ele mesmo a responde no artigo. "O que está em jogo na mesa de negociação com os professores federais é o projeto do país, que só tem a educação como arma contra a desigualdade."
E será que o atual governo está interessado em investir em um projeto para o Brasil, para que consiga corrigir a desigualdade?
Investir em educação no país é um risco para o atual sistema. Um povo educado é perigoso, já que consegue pensar sozinho e a partir daí, seguir seu próprio caminho.
Se não é essa a afirmação mais próxima da verdade nacional, então, como explicar o analfabetismo. Hoje, segundo fontes oficiais do governo, 14,7% da população é analfabeta. Mas esses dados devem ser questionados, já que não somam os analfabetos funcionais, isto é, aqueles que não conseguem incluir no seu dia a dia, a escrita e a leitura. São pessoas que possivelmente sabem assinar seus nomes, mas não conseguem interpretar ou produzir um texto. Somando os dois tipos, temos quase 60% da população analfabeta.
E se temos mais da metade dos brasileiros nestas condições, é porque alguém sai ganhando. Ganham os empresários que lucram com a mão de obra barata gerada pela ignorância, ganha o político que usa esta mesma ignorância para conseguir votos, se eleger e continuar perpetuando esta situação.
Professores ganham pouco, alunos encaram a péssima qualidade do ensino público e privado, a pesquisa não é incentivada. Nenhum destes acontecimentos é inocente. Aliás, nada no Brasil é feito de maneira inocente. Quem manda aqui faz as coisas de maneira bem "séria", ao menos para si próprios.
"Se a crise há é porque a importância da educação foi reduzida no Brasil. O que está em jogo não é a matemática financeira de reajustes acumulados ao longo do tempo, mas a construção da matriz de valores da nossa sociedade e a expectativa de futuro da nossa população. E neste campeonato perverso, por enquanto, não há inocentes nem vitoriosos", afirma.
Infelizmente Conde erra na última consideração, já que nós sabemos quem são os vitoriosos. E eles estão ganhando há muito tempo. |