Lamentável a postura do líder da Assembléia de Deus no Pará, -- 640.000 fiéis no Estado -- , Gilberto Marques de Souza, ao declarar o apoio formal da Denominação à candidatura do “ungido” do governdor Almir Gabriel, Simão Jatene. O fato a se lamentar tem duas vertentes principais.
A primeira é quanto a esse dito apoio formal, porque à época da campanha sairá da simples formalidade para o pragmatismo político, materializado no “convencimento” aos fiéis para que votem no candidato oficial. Em outra demonstração de “jogo de cintura”, o líder evangélico também declarou apoio à possível candidatura ao Senado da vereadora Ana Júlia Carepa, do PT. Não sei como se dará, na prática, a orientação aos fiéis, geralmente feita dos púlpitos, para que votem em dois candidatos que são adversários políticos. PSDB e PT vivem às turras no Estado. Será que, independentemente dos interesses para-eclesiásticos envolvidos nesse extravagante apoio, o pastor Gilberto quer ser reconhecido pela História paraense como o homem que conseguiu estabelecer a paz entre os inimigos políticos no Pará, convidando-os para repartir os púlpitos de sua igreja durante a campanha? Quem sabe em um ambiente no qual os sentimentos raivosos devem dar lugar ao amor ao próximo, finalmente políticos que hoje se engalfinham feito cães e gatos possam se converter em mansos cordeiros aos olhos dos irmãos evangélicos, tornando-se dignos de sua confiança e de seus preciosos votos.
A outra vertente já recai mais no campo religioso-doutrinário. É interessante a aparente falta de discernimento de um líder evangélico que declara apoio formal a um candidato que, sendo eleito, provavelmente dará continuidade à construção da imagem gigante de N.S.ª Senhora de Nazaré. Não tenho nada contra a construção em si, visto que cada homem um dia prestará contas a Deus daquilo que tiver feito neste mundo; o que não entendo é como podem os evangélicos apoiar alguém que erguerá a imagem da santa, o que contraria frontalmente a tradicional pregação evangélica em relação ao culto às imagens, e, do ponto de vista jurídico, contraria a própria Constituição Federal, que proíbe o uso de verbas públicas na subvenção de cultos ou religiões, em obediência à separação legal entre o Estado e a Igreja.
Seria muito salutar para o exercício de sua cidadania que os evangélicos do Pará e do Brasil, de todas as denominações, votassem livremente, independentemente de acordos ou apoios de natureza inusitada, sob interesses quiçá alheios à sã doutrina cristã, numa espécie de versão evangélica para o famigerado voto de cabresto, com a diferença de que no lugar dos bois entraram as ovelhas.