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Artigos-->O dia em que morreu Lampião -- 29/07/2004 - 21:02 (Caixa do Pregão) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ontem, 28 de julho, fez 65 anos que Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, morreu. Adorado por uns e odiado por outros, Lampião fez história no sertão. E você sabe por que ele tinha esse apelido?

O rei do cangaço ganhou o apelido de lampião por ser um exímio atirador. Como geralmente os cangaceiros da época possuíam armas de repetição, ou seja, de um tiro só, Virgulino Ferreira tinha uma habilidade como poucos, a de recarregar sua arma em poucos segundos. Assim, no meio da noite, quando se via estalos de pólvoras em curtíssimos intervalos de tempo, podia saber com absoluta certeza que era o homem mais temido do cangaço, Virgulino Lampião.





Lampião era do signo de Gêmeos. Nasceu no dia 4 de junho de 1898, no sítio São João do Barro Vermelho, localidade de vila Bela, hoje município de Serra Talhada, no sertão de Pernambuco. Foi batizado com o nome de Virgulino Ferreira da Silva.

Antes de entrar para o cangaço, Lampião era um pequeno agricultor nordestino. No dia em que seu pai foi assassinado por um coronel sertanejo, devido a uma questão de terra, Virgulino Ferreira partiu em busca de vingança e logo depois se tornou o mais destemido cangaceiro nordestino.

Como cangaceiro, Lampião ganhou muito dinheiro, cometeu vários crimes, “reparou” honras perdidas, serviu a muitos coronéis e espalhou o medo pelas terras secas da caatinga. Ele dizia que o sertão só produzia coisas boas para quatro tipos de gente: coronel-fazendeiro, vigário, juiz e bandido.

Lampião foi assassinado numa emboscada, na madrugada de 28 de julho de 1938, traído por um coiteiro da sua confiança.



Saiba como foi por Marcos Cirano.



Tudo começou na fazenda Angico, em terras do município sergipano de Porto da Folha, bem perto daquele mundo d’água que é o rio São Francisco. Era uma tarde cinzenta, com a promessa de chuva que nunca chega, quando os cangaceiros acabaram de armar ali suas tendas. Lampião, o grande comandante, orientava os cabras que logo cumpriam com exatidão todas as ordens por ele dadas.



Ao lado da companheira Maria Bonita, que também não largava seu parabelum um só instante, Lampião ordenou que o bando de 47 homens e 4 mulheres se dividisse em três grupos. E desta forma foi feito. As tendas foram armadas estrategicamente em lugares diferentes, uma para cada grupo. E seis homens foram espalhados pelos arredores do acampamento para vigiar toda a área.

Assim, Lampião se instalou em Angico. Ele imaginava que aquele seria mais um pernoite igual a tantos outros que o bando já tinha passado sob o céu estrelado do sertão nordestino. O plano do Capitão Virgulino era deixar a fazenda no dia seguinte, antes do sol nascer. Pois as volantes estavam apertando o cerco e a tropa não deveria facilitar. Só a proteção dos coiteiros não bastava.



A fazenda angico não era um lugar desconhecido. Lampião e os seus homens já haviam passado por ali várias vezes. Além do mais, a propriedade ficava na região onde atuava o tenente João Bezerra, que era velho amigo do Rei do cangaço e um dos seus maiores fornecedores de armas. Portanto, tomados os cuidados de praxe, restava esperar que a noite avançasse e que o coiteiro das cercanias trouxesse os mantimentos.

Maria bonita, que chegou a Angico muito doente, ainda tentou convencer Lampião a deixar a fazenda no início daquela noite. O cangaceiro Cajarana também propôs ao Capitão que abandonassem o local imediatamente. Cajarana tinha visto um sapo pular de costa no riacho da fazenda e aquilo era um aviso de que coisa ruim estava p’ra acontecer. Mas Lampião já tinha decidido:



- Cambada, nós arreda pé de Angico amanhã bem cedo!... Deu ordem e foi cochilar.

Por volta das oito horas da noite, o cangaceiro Sereno foi à tenda do Capitão e lhe contou um ocorrido que bem poderia ter mudado o plano do expediente e bravo guerreiro. Todas as garrafas de bebidas trazidas pelo coiteiro João de Cândida tinham um furo de agulha na rolha. Estavam envenenadas. Lampião sangrou o traidor com um punhal de prata e ordenou que todas as moitas próximas do acampamento fossem rastreadas.



Terminada a busca, os cangaceiros não encontraram nada que indicasse a presença de soldados. Mas, mesmo assim, Sereno continuou preocupado e novamente disse ao Capitão que era preciso fugir o mais rápido possível. Lampião não concordou. Mandou apenas reforçar a guarda e adormeceu ao lado de Maria Bonita, crente de que não seria traído pelo amigo João Bezerra. Mas este foi o grande erro do Rei do Cangaço.

Amoitada da caatinga que ainda esbanjava o verde deixado pelas últimas chuvas, uma volante cercava o bando. Eram quarenta e seis homens armados de fuzis, três metralhadoras e muita munição. Comandados pelo tenente João Bezerra, eles perdiam na escuridão da noite à espera da melhor hora p’ra atacar. Reinava um silêncio incômodo no acampamento e o tenente pressentiu que a batalha seria sangrenta.



Antes de autorizar o primeiro tiro, o tenente Bezerra passou por um rápido momento de reflexão e sentiu um misto de angústia e remorso. Afinal, a traição não fazia parte das leis do cabra reto do nordeste. E, além do mais, Lampião nunca tinha lhe faltado com a palavra. Devia ou não liquidar o bando?, pensou com seus botões. E os serviços que Lampião tinha lhe prestado?...

O tenente Bezerra, de certa forma, também estava ali encurralado. Ele foi chamado ao dever de matar Lampião porque as autoridades da República descobriram o seu rendoso negócio da venda de armas para o cangaceiro. E não deixaram uma meia-saída para aquele representante das forças legais: ou ele aceitava matar o amigo e parceiro de comércio, ou perderia seu posto. O tiroteio, então, teve início.



O primeiro cangaceiro morto pela fuzilaria traiçoeira da volante foi Amoroso. No meio da madrugada, ele saiu da tenda para urinar e recebeu uma rajada de balas nas costas. Morreu urinando, com a boca aberta com jeito de quem queria gritar. O comandante durou cerca de meia hora e os integrantes do bando de Lampião, apanhados de surpresa, desta vez quase nada puderam fazer. Apenas morrer ou fugir pelas matas.



Lampião estava na frente de sua tenda e ainda conseguiu disparar vinte e sete tiros antes de cair crivado em balas. As baixas entre os macacos foram poucas: um soldado morto e outro ferido. Mas, para o bando do rei vesgo do sertão, o resultado da contenda foi desastroso: 40 cangaceiros fugiram e 11 foram mortos. Depois que as metralhadoras pararam de cuspir fogo, os soldados do tenente Bezerra começaram a recolher o que restou no acampamento. Para roubar os anéis dos mortos, cortavam dedos e até mãos.

Os macacos faziam a festança e gritavam: “viva os poder de Deus e a força da poliça!”



Maria Bonita, baleada na coxa esquerda e sangrando muito, rastejava em direção a Lampião que ainda respirava. Mas não alcançou o companheiro. Foi arrastada pelos cabelos até a beira do riacho. Com os olhos arregalados p’ra conter o choro, dizia aos soldados que a matassem, mas que poupassem Lampião. O soldado Cecílio desferiu-lhe uma coronhada de fuzil no crânio e ela foi degolada viva. Mas a cabeça de Maria Bonita ainda ficou pendurada por um resto do pescoço e a degola teve de ser completada a facão.



Os corpos mutilados dos cangaceiros foram abandonados no local da chacina. Além do dinheiro e dos pertences dos inimigos, os comandados pelo tenente Bezerra levaram consigo as cabeças de Lampião, Maria Bonita, Mergulhão, Caixa de Fósforo, Elétrico, Quinta-feira e Enedina. Sem essas provas macabras, ninguém iria acreditar que Lampião estava morto.



Poucos momentos antes da volante deixar a fazenda Angico, os soldados Cecílio e José Panta de Godoy resolveram usar os restos de Maria Bonita p’ra divertir seus colegas. Enquanto Cecílio suspendia o corpo sem cabeça, Godoy levantava à saia da ex-cangaceira com o cano do fuzil e aguardava o coro da platéia: “A caçola dela é encarnada, da cor de sangue.” O tenente João Bezerra, que assistia tudo aquilo de longe, de repente ordenou:



-Missão cumprida, vamos todos regressar. Com a graça de Deus!





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