Entenda-se o corpo humano como uma comunidade, órgãos formados por indíviduos-células, especializados em tarefas que colaboram para a manutenção do equilíbrio do organismo, baseado na operação harmoniosa dos diversos sistemas de que é composto.
O objetivo do corpo humano é transcendental, bem maior que a vida desses indivíduos-células.
Do nascimento até a morte do ser humano, gerações e mais gerações de indivíduos-células surgiram e feneceram, segundo suas atribuições.
A organização do corpo não difere muito da organização de nossa sociedade, mesmo em seus desarranjos, a coisa toda é muito similar.
Aí entra o câncer.
Exatamente como no corpo humano, o câncer numa sociedade representa aquela situação que fugiu ao controle central da sociedade.
Não digo aí tratar-se de governos, nem mesmo da classe dominante, pois mesmo isso não representa para nosso mundo o que o cérebro representa para o corpo.
Existe um poder, se é que podemos usar essa palavra para definir isso, mas a sociedade é regida por uma força que transcende a ação pura e simples da vontade de grupos detentores de poder, o que explica o fato de esse poder não ficar retido nas mãos deles por muito tempo, sendo transferido para grupos antagônicos, o que se convenciona chamar de revolução.
Mas a revolução em si não é um câncer, mas uma febre, uma dor de cabeça. O câncer na sociedade, é aquele que corrói as bases da organização, suas fibras que mantém o sistema coeso.
Hoje podemos localizar um câncer que não tardará a fazer seu estrago na civilização: a miséria.
A população cresce, e em seu seio cresce a miséria, não por haver falta de víveres para todos, mas por haver a ganância - deformação genética da raça humana - o não saber dividir, enquanto acumula mais do que precisa.
A miséria leva seus filhos a encontrar maneiras de sobreviver, que é o instinto básico de todos os seres vivos desse planeta. E na busca dessa sobrevivência os miseráveis vão rompendo as amarras que os mantém na organização forjada pelos poderosos: a civilização.
Com muitas dores o corpo se contorce enquanto o câncer se alastra, corroendo as entranha, enquanto a sede do poder físico desvia seu primordial intuito transcendente para tentar manter o organismo em funcionamento.
Perdendo o primeiro objetivo, termina sendo vítima do mal que por fim o alcança e o destrói, pondo fim à civilização dos indivíduos-células com o fenômeno da morte.
Da mesma maneira a civilização atual ruirá, enquanto a miséria, verdadeiro câncer econômico que se alastra devastando paises e povos, ao contrário do que afirmam pesquisas de bancos mundiais e afins, que não desejam focalizar onde está o mal, por saber que a cura também trará o fim do modus vivendi de nossa sociedade, para finalmente destruir toda a estrutura que serviu de matriz para a mazela: o modelo econômico predador criado pelo mundo ocidental.
Mas como até na morte há vida - veja-se os vermes que habitam as carcaças putrefatas - o fim de nossa civilização trará o caos num primeiro estágio, mas por fim uma nova ordem surgirá, e será benéfica se tivermos aprendido a lição que estivemos estudando por mais de dois mil anos: amar ao próximo como se ama a si mesmo.
Aqui não se trata de apelo religioso, mas de lógica.
A miséria cresce onde há egoísmo e ganância, filhas da estupidez. Quando há sabedoria, há partilha e bem estar social, que pode ser traduzido também por AMOR.