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Artigos-->O CAMINHO -- 03/05/2004 - 13:50 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Eu percebi que um dia vou morrer.

E então? O que farei do tempo que restar após este funesto acontecimento?

Terei mesmo algum tempo ou lampejo de consciência após a passagem?

E essa passagem? Ida e volta ou somente ida?

São tantas as questões, que eu fico imaginando que ambas as vertentes da humanidade, tanto espiritualistas quanto materialistas estão completamente certos e redondamente enganados, tudo isso ao mesmo tempo, é claro, quando defendem suas teses sobre o hoje e o amanhã da vida.

Vamos às poucas respostas aos muitos porquês, que eu, atrevida e insensatamente, me proponho a dar:

Os espiritualistas - e aí eu me coloco - pensam na eternidade da vida, sendo a vida para eles a do espírito, não somente a da carne. Neste momento, a carne para estes é como se fosse o próprio inferno, e a morte a salvação. Tudo estaria lindo se não houvessem outros espiritualistas discordantes, que dizem haver dois caminhos após a morte do corpo: um largo e outro bem estreito.

Aí o objetivo muda da busca pelo que virá para a pura servidão a alguma entidade superior, que recompensará os servos bem comportados.

Muito embora este pensamento seja para mim bastante estúpido, não posso deixar de reconhecer que ele serve ao controle da maldade inerente ao ser humano. Penso mesmo que o homem é o próprio diabo, tentando voltar ao paraíso e inventando para si mesmo a mentira mais deslavada de que tinha uma serpente assim-assada e coisa-e-tal.

Mas mesmo este controle existe entre os espiritualistas, e foi esse um dos motivos de eu haver me afastado do chamado espiritismo kardecista, por localizar na doutrina princípios anti-libertários, um quê de Comte, quando o século XIX fervilhava com Marx e Engels e os anarquistas que reagiam à escravidão social reinante.

O erro dos espiritualistas é colocar tudo, ou quase tudo que buscam ou esperam, do lado de fora. A viagem, a passagem, a jornada, é dessa para uma melhor, para um céu que está acima de nós, para um paraíso de prazeres mistos de santidade e sexo ou mesmo um nirvana tão abstrato que poucos são os felizes que conseguem compreender o que é de fato o nirvana. Uma vez que o que é bom está fora do homem, ele passa a ser apenas uma casca que contém uma energia que se debate entre dois pólos: o bem e o mal, e teme acreditar que o bem e o mal fazem parte da mesma coisa, e só existem separadamente, unidos, se acabam numa neutralidade sem som, sem cor, sem cheiro, a tal abstração nirvânica que se quer e se teme ao mesmo tempo: a parada do movimento universal.

Sendo casca o corpo, também é casca a personalidade, e num nível acima, é casca a individualidade, que libera, qual crisálida, o ser enclausurado que se une ao seu criador, misturando tudo, numa simbiose energética que demonstra que nós sempre fomos Ele, e que Ele sempre foi nós, outro conceito pra lá de perigoso em tempos de ortodoxia paranóica.

E os materialistas?

Estes nada esperam, até que a morte bate à porta, e eles liberam toda a carga emocional que abafaram em seus corações durante toda a vida em que buscaram gozar todos os prazeres disponíveis e ainda usaram suas mentes para criar outras formas de prazer, mesmo que significassem reduzir suas expectativas de vida. Aliás, esta expectativa de vida longa tem tomado tanto tempo e dinheiro da humanidade, que faltam tempo e dinheiro para resolver os problemas da fome, das doenças, das guerras e outras coisinhas que atrapalham as noites de sono de muitos materialistas, que se vêm à frente que algumas questões metafísicas que, sinceramente, não são a sua praia.

Mas nem todo materialista é de fato um farrista irresponsável, longe disso, pelo contrário, conheço mais espiritualistas farristas do que materialistas.

De fato por materialismo não se pode apenas pensar na busca de prazer, que é chamada de hedonismo, uma variação. Mas é materialista aquele que vê na morte tão somente a ausência de movimento físico do corpo, ou lucro, se se tratar de um agente funerário. Os materialistas são ferrenhos inimigos dos espiritualistas, porque estes últimos têm algumas idéias que muito os aborrece, quando questionam as coisas sagradas do materialismo, como o trabalho, a religião, a ideologia, ou seja: tudo aquilo que é usado para domar a vontade e cercear a liberdade das pessoas. O que eles não usam para conseguir isso é a difusão do conhecimento e a valorização da ética e das virtudes, que de fato igualaria as pessoas, acabando com as tão queridas diferenças sociais que os materialistas usam para alicerçar seu mundo tão certo, porém tão torto.

Mas como tudo tem duas caras, mesmo o materialismo tem algo de aproveitável. E digo isso com o estômago dando voltas, mas sei que vou conseguir chegar ao fim.

Esse algo aproveitável reside na idéia de conforto que as pessoas desejam para suas vidas. Mesmo que o conforto material não seja o único, não podemos negar que muito agrada uma vida confortável do que uma repleta de privações. E diante dessa necessidade física que tem grandes reflexos emocionais e espirituais, os materialistas armaram toda uma estrutura para produzir bens, muitos e mais "baratos", de modo a poder alcançar o maior número possível de pessoas. Não podemos pensar num mundo justo com pessoas iguais, como de fato são, apesar das tão necessárias diferenças, vivendo de formas tão diferentes, no que tange ao acesso aos bens de consumo que lhes permitam uma vida mais confortável, em todos os aspectos.

Materialistas usam sempre aquele dito romano: "Primeiro comer, depois filosofar."

Não há como filosofar de barriga vazia, por isso se faz necessário este bem material que aplaca o sofrimento do corpo para que se expanda o espírito.

Um corpo carente aprisiona o espírito até que esteja satisfeito e não precise mais da colaboração daquele para suprir suas necessidades.

Mas o materialismo causa mais mal do que bem. Para que seu lado "bom" tenha algum valor, destrói a natureza, o meio ambiente, o habitat de homens, plantas e animais, criando mais motivos de desconforto para aqueles a que se propõe ajudar.

Disso tudo, vemos que não existem dois caminhos para o homem escolher. Cada caminho citado tem paz e tem guerra.

O caminho do homem deve ir para dentro e não para fora, pois dentro dele está o universo, está Deus. O caminho do homem deve ser o caminho da paz, do amor. Não deve ser o caminho do abandono nem da inconsciência.

Unir o material e o espiritual.

Unir o bem e o mal (oh! heresia das heresias)

Unir e não desunir.

Encontrar o silêncio absoluto, quando silenciarem-se os anseios de querer alguma coisa.

Este é um caminho que me faz lembrar do Raul Seixas:

"Este caminho que eu escolhi é tão fácil seguir, pois não tem aonde ir."

Então vamos sô!

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