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Artigos-->MOSKA KRISTO - final -- 07/01/2004 - 21:09 (Marco Antonio Cardoso) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Sim meu caro Pedro, até Deus tem que respeitar suas próprias leis. Não fique triste por mim, pois morrerei mais feliz que da primeira vez, servirei de alimento para uma aranha qualquer, e não para a sanha assassina da multidão enlouquecida por falsos líderes. Ouça Pedro, preciso ir até o Vaticano. Tenho que me encontrar com o Papa.

- O que tens a dizer ao Papa, Senhor? Não era para ele que falava, era para o povo. O Papa, ou qualquer líder de qualquer religião pouco tem que ver com aqueles que têm fé.

- É um homem sensato Pedro. Os últimos dois mil anos serviram para aplacar sua impulsividade. Tens razão. Não preciso ver o Papa, mas quero muito isso. O que eu disse na televisão deve ter mexido com os fiéis do mundo todo.

- Não ficaria tão confiante, Moska Kristo. A tv é um circo dos horrores. Hoje foi uma profética mosca falante, amanhã é um cantor comedor de crianças, depois um terrorista milionário a denotar edifícios, uma cantora que beija qualquer mulher que lhe aparece na frente. É uma loucura atrás da outra, para preencher os espaços que ficam vazios nas almas dos homens que não podem enche-lo com milhões de dólares.

- Está amargo, Pedro? Não se deixe dominar pela amargura. Temos que nos fortalecer com o máximo entusiasmo para vencer o mal que vem disfarçado de desesperança. Vamos, acompanhe-me até o Vaticano.

E assim fomos até a praça do santo xará que, por coincidência, era eu mesmo. Confesso que este negócio de reencarnação estava me deixando meio confuso, mais do que quando enchia a cara e dormia atirado na sarjeta.

Assim que chegamos ao centro da praça, Moska Kristo pediu que me afastasse o máximo, pois ele precisaria de espaço. Não entendi nada, mas fiquei espantado com o que aconteceu depois.

Moska Kristo começou a crescer, crescer, crescer, até ficar com a espantosa altura de uns trinta metros. Eu estava estupefato. Não conseguia nem sequer coordenar o pensamento para entender o que estava acontecendo. Naquele instante ele começou a gritar bem alto, com uma voz terrível. A voz de uma mosca falante de trinta metros. Ele chamava o sumo pontífice pelo nome:

- Damian, Papa Damian, apareça agora mesmo!

Em volta da praça estava formada a assistência mais estranha que já vi num espetáculo público. Porém nunca soube de um espetáculo dessa natureza. Turistas, padres, soldados do Vaticano, repórteres. Todos queriam saber que diabos estava acontecendo ali. Sem falar nos gritos histéricos que se ouviu no início da metamorfose da mosca, de mosquinha para moscão, e nos desmaios das beatas e freiras. Não sou machista. Muitos homens também desmaiaram, eu quase desmaiei também.

O Papa Damian apareceu no balcão de onde ele pronuncia seus sermões públicos. Com a ajuda de um megafone, dirigiu-se a Moska Kristo:

- O que queres, ó aberração demoníaca. Já não foi suficiente a loucura transmitida pela televisão? Agora é este circo?

O papa Damian era um homem de sessenta e seis anos, mas seus cabelos ainda não eram de todo branco. Era bastante vigoroso, mas uma corcunda em suas costas fazia-no andar encurvado, o que causava uma impressão estranha para quem via pela primeira vez o sumo pontífice.

- Não me fale de aberração Damian –bradou Moska Kristo. Ordeno que revele a verdade perante o mundo!

- Não sei do que fala, demônio. Aparta-te e volta para as profundas.

Então Moska Kristo desenrolou sua longa tromba e apontou-a na direção do Papa, esguichando um líquido ácido e gosmento que dissolveu suas vestes, para espanto de todos os presentes.

A mitra papal se desmanchou como papelão molhado, e a vasta cabeleira de Damian caiu imediatamente, deixando ver um par de chifres pouco acima de suas frontes. Eu não estava perto o suficiente para ver aquela coisa, mas os cinegrafistas gravaram tudo de um lugar que permitia uma vista privilegiada. As roupas de Damian também se desmancharam, deixando-o nu e revelando sua verdadeira natureza. Um corpo coberto de pelos grossos, pernas que lembravam patas de cabra, terminando em cascos no lugar dos pés. Uma cauda escamosa e pontuda, que balançava de um lado para o outro, e o mais espantoso: sua corcunda era na verdade um par de asas negras e membranosas, que agora se abriam atrás de si.

Não preciso dizer que o caos se instalou naquele momento. O pânico dominou as pessoas na praça, que corriam desorientadas. De repente percebi que vários religiosos, padres, freiras, monges, se transfiguravam, metamorfoseando-se em demônios e começavam a atacar s pessoas, destroçando-as, e regozijando-se após cada assassinato. Depois eu soube que o mesmo fenômeno ocorreu em todo o mundo, com religiosos de todos os matizes, não somente cristãos, mas todos, sem exceção.

Damian pulou da sacada, e enquanto caia, aumentava espantosamente de tamanho, ficando da mesma altura do nosso Moska Kristo.

Os dois colossos se engalfinharam ferozmente, desferindo golpes violentos, que estremeciam a praça. Era uma coisa única ver aquele anime ao vivo, uma luta monstruosa que lembrava as velhas séries japonesas dos anos sessenta, como Ultraman ou Godzila.

Enquanto lutavam, aqueles seres enormes iam destruindo o Vaticano, derrubando a Capela Sistina e outros prédios vizinhos, numa devastação sem igual.

Eu estava escondido sob alguns escombros, a salvo dos padres-demônios e torcendo pelo sucesso de Moska Kristo, que parecia estar em desvantagem contra o vitaminado demônio Damian.

Mas nunca devemos descrer do poder do Bem contra o Mal. Moska Kristo deferiu um golpe arrasador no peito de Damian, atravessando-o com uma das patas, e levando junto seu coração.

Aquele golpe foi fatal. O demônio estremeceu e derreteu-se numa gosma marrom e mau-cheirosa. Percebi que os outros demônios também estavam derretendo, o que converteu a praça de São Xará numa fedentina só, como se uma disenteria coletiva tivesse acometido seus visitantes em dia de discurso papal. Moska Kristo voltou ao tamanho normal e voou em minha direção...

- O que? Porque vocês estão me olhando assim? Está bem, está bem. Não foi “exatamente assim que aconteceu”, mas não está muito longe de ser a verdade.

Quando eu cheguei nos fundos da emissora, ouvi os gritos de Moska Kristo que estava preso numa teia de aranha, e se debatia sem muito sucesso, enquanto aquela criatura asquerosa seguia rapidamente em direção do mestre para fazer dele seu almoço, pois já era quase meio-dia.

Desesperado, sem poder alcançar a teia da aranha, tirei um sapato e atirei na sua direção, destruindo a armadilha do aracnídeo e pondo Moska Kristo a salvo. Ledo engano. Com a sapatada, Moska Kristo ficou gravemente ferido. Resgatei-o dentro de uma lata de lixo e limpei-o das teias na palma de minha mão.

- Pedro, Pedro, minha missão chegou ao fim. Não há mais nada a fazer nem mais nada a dizer. Não mais serão enviados seres divinos para a Terra. Os homens terão que encontrar a paz e o amor necessários à sua sobrevivência por seus próprios esforços. Já os ensinei a pescar, agora, mãos à obra. Peço a você que mantenha por mais alguns anos a chama de minhas palavras acesa. Encontrará somente quem te queira calar. Muitos quererão destruí-lo, para que meu nome seja apagado da história. Quem afinal desejaria ser discípulo de uma mosca falante? Mas te peço Pedro, que mais uma vez não se cale e cultive minhas palavras como um jardim, até que as flores comecem a despontar. Nessa hora, posso assegurar, as bem-aventuranças estarão sendo despejadas sobre as cabeças dos seres deste planeta, que experimentarão finalmente a minha paz. Adeus Pedro. Deixo-te meu corpo como prova da minha aliança contigo.

E dizendo estas palavras, Moska Kristo expirou ali mesmo, em minha mão.

Chorei muito, pois fui o causador da morte do meu mestre, mas desde então, tenho vagado pelo mundo contando sua história e mantendo acesa a força de suas palavras de paz, amor e esperança de dias melhores.

O homem precisará ainda, por muitos séculos, das palavras de alento que avatares diversos lhes doaram ao longo do tempo. Moska Kristo no entanto não é apenas mais um deles, mas sim o Príncipe dos salvadores da humanidade, que entregou por fim a chave da paz aos homens para que eles a alcancem por seus próprios méritos, sem se escorarem nas muletas das religiões. Por isso mesmo eu não erijo templos nem forjo rituais, apenas sento aqui e converso com vocês sobre uma mosca falante que se atreveu a mostrar aos homens que ainda é possível retomar o caminho mostrado há dois mil e cinqüenta anos.

- O que é? Ainda assim você não me acredita? Mas acreditará agora mesmo, quando eu te mostrar algo. Está bem aqui, nesta caixa de fósforos. Foi onde eu guardei o corpo do Mestre Moska Kristo. Vê? Você está vendo agora?



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