POBRE CRIANÇA
Sentada no meio da calçada,
entre as pernas um jornal velho,
desenrolou-o, entre os restos,
encontrou um ovo, tirou a casca,
cheirou e começou a comer.
Estava só!...
Alheia a todos e a tudo,
como nada existisse,
vivendo num mundo vazio,
onde a insignificância e
o tamanho do ser,
desaparecesse na imensidão
desse vazio sem fim.
Foi muito triste sentir,
que para ela o mundo dos outros
não existia e mais triste ainda,
foi ver que para os outros,
seu mundo também não existia.
Ninguém a viu!...
Passou desapercebida como
uma figura ou uma sombra,
no entanto, era uma criança,
mal vestida, suja,
calçada com tênis sem cadarços.
Nesses minutos,
lembrei de mim quando criança,
dos meus filhos e da vida.
Nada fiz!...
Embora não a ignorando,
nada mudou,
o mundo continua e,
crianças como essa,
sem objetivos e subjetivos de vida,
passam pela vida,
entre tantas vidas,
com tão pouca vida.
João C. de Vasconcelos
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