Não acreditaria se não tivesse visto com meus próprios olhos. Estava eu assistindo ao Jornal Nacional quando, de repente, uma cena me chamou a atenção, não propriamente pelo seu significado histórico, mas, sobretudo, pela presença inesperada de uma figura bastante familiar. Era a derrubada de uma das inúmeras estátuas do ditador iraquiano Sadam Hussein, presenciada "in loco" pelo agora destemido Aprígio.
Não acreditei quando o vi segurando a marreta e batendo contra o monumento. Logo ele, o recatado Aprígio, até então incapaz de se posicionar sobre qualquer assunto, de sexo a time de futebol, dando provas de sua insatisfação com o regime ditatorial do Iraque.
Às três da manhã tentei falar com Aprígio, ligando para o número do hotel em que estava hospedado, mas só consegui falar com Zé da Banguela. Perguntei como iam as coisas por lá, e ele me disse que a situação tava ficando preta. Uma bomba caiu a uns quinhentos metros de onde estavam, fazendo com que o pequeno hotel tremesse feito geléia. Mas o que mais deixava Zé preocupado era o número de gente morta e ferida nas ruas. Jovens, crianças, velhos, homens e mulheres vítimas daquela guerra absurda e idiota.
Zé da Banguela disse que ia embora antes do fim daquele massacre, segundo ele não por medo, mas por uma razão mais nobre. Com o consentimento de Aprígio, iria tentar ser um pregador da Filosofia Aprigiana no Rio de Janeiro. O dinheiro esperava conseguir com a venda do livro que Aprígio começou a escrever ainda na Jordânia.
Fiquei feliz e ao mesmo tempo preocupado com a vinda prematura de Zé da Banguela para o Brasil. Achava que Aprígio, em meio a sua infinita ingenuidade, ficaria ainda mais desprotegido. Deixei o recado com Zé para que Aprígio ligasse assim que chegasse no hotel.
Passou-se quase uma semana sem qualquer notícia do meu amigo. Numa sexta-feira à noite recebi uma ligação do Iraque. Era novamente Zé da Banguela, dizendo que iria partir amanhã com destino ao Brasil.
!!Próximo Capítulo: “Zé da Banguela troca a guerra no Iraque pela do Rio”