O cuidado que Aprígio dispensava à sua cadela Nestor era mesmo comovente. E não era só porque estava prester a entrar no Iraque, sem saber o que o futuro lhe reservava. Ele sempre tratou muito bem sua poodle, gastando uma nota com xampús especiais, perfumes e rações importadas, banhos semanais nas lojas de animais de estimação etc.
Portanto, a recomendação que passou ao telefone, para que D. Juçara olhasse pela sua cadelinha foi natural, própria de um pai zeloso por sua prole.
À tarde fui à casa da mãe de Aprígio passar o recado. Para sorte minha ela não estava. Tinha ido ao mercadinho exatamente para comprar a ração de Nestor. Achei que Aprígio não iria gostar de saber daquilo, porque naquele mercadinho não tinha a ração que ele costumava dar a sua cria. Deixei um bilhete em baixo da porta contando sobre a conversa que tive na noite anterior com seu filho e fui embora.
Nestor era uma cadela muito parecida com seu dono. Muito tranqüila para os seus três anos de idade. Sempre limpa e cheirosa, mal latia durante o dia e só tinha atenção voltada para o pai. O nome foi dado pelo próprio Aprígio, porque até completar o primeiro ano de vida da cadela, ele achava que Nestor era macho. Depois da descoberta, resolveu manter o nome Nestor, pois já estava acostumado com ele.
Aprígio tinha álbuns e mais álbuns da canina. No seu trabalho um porta-retrato com uma foto da cadela em seus braços, tirada na única vez em que pisou numa praia, enfeitava sua mesa. Disse que tinha adorado aquele passeio, e que assim que ficasse rico compraria uma casa naquele paraíso. Agora no Iraque, acho que mais esse sonho aprigiano deve ter ficado para um pouco mais tarde. Talvez até para a próxima encarnação, quem sabe.
!!Próximo Capítulo: "Aprígio vai ao Iraque e vê Sadam"