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Artigos-->A CRÍTICA LITERÁRIA -- 11/03/2003 - 18:41 (Daniel Cristal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A CRÍTICA LITERÁRIA



Escreve: Armando de Figueiredo



Escrever sobre Literatura é um acto dos mais delicados e vulneráveis, que possa existir, atendendo a que existem diversas perspectivas para abordar uma obra, sendo também certo que não é ingénuo nem inocente utilizar o bisturi selectivo da exegese sobre escolhas feitas, à partida subjectivas numa primeira abordagem, mas que podem alcançar também uma grande dose de objectividade se levarmos em consideração os seus mais vastos cômputos linguístico e simbólico. A obra seleccionada tanto pode enquadrar-se num só género literário, como também pode circunscrever vários. Os críticos hodiernamente tendem no entanto a dedicar as suas melhores páginas à alegoria, seja ela em verso ou em prosa, teatro ou narrativa. Aí eles sentem-se à vontade e têm material do melhor para poderem dissecar a arte literária (digamos ficção estética), com a qual estão trabalhados os textos. O texto circunstancial está assim diminuído, a crónica oficial posta fora de serviço do consumo artístico, muito naturalmente. Não há razão para dramatizar esta situação. Ela é tão natural, como natural é a lavradeira gostar de romances cor-de-rosa, a peixeira ler as revistas que a filha compra e revela mais uma fofoquice do apresentador de televisão ou do seu cantor pimba favorito ou dos gurus da toleirice momentânea.

Não podemos é dizer que o crítico de Arte e Literatura escreve democraticamente para o povo. Ele escreve para as elites que o compreendem, as que gostam do que é instrutivamente ou letradamente superior, dessa matéria plástica escrita, que abarca um dos mais refinados gostos cultivados à flor da Terra. Ele gosta do sonho que faz sonhar, gosta da escrita que regista várias perspectivas de leitura, aprecia a viagem espiritual que cria novos mundos, sem criar coisa nenhuma, porque são utópicos e ucrónicos, possíveis de realização a prazos longos, seculares, por vezes irrealizáveis, erróneos. Os sonhos criam avanços sociológicos, filosóficos, políticos, ideológicos, contudo nunca se realizam de acordo com o sonhado. Mas os críticos e ensaístas também gostam de sonhar, e entrar nesses universos imaginários, e por consequência embarcam nos horizontes da ilusão, e gostam de ser poetas por efeitos de endogenia e por dentro da poesia. Em relação ao crítico circunstancial, o ensaísta de grande fôlego é mais objectivo porque analisa, constata, verifica, conclui com a honestidade que o vai qualificar, recorrendo às ferramentas do estudo teórico de que se foi apropriando, aplicando-o no trabalho; no fundo o ensaísta movimenta um capital precioso, profundo e o mais variado possível, posto adequadamente à sua disposição, sem entrar em grandes elucubrações surrealistas ou verborreicas, sujeitas, no caso de desequilíbrios, à desqualificação do seu mester.

Quanto mais culto e sabedor é o crítico mais se serve de meios, instrumentos e chaves de crítica pouco acessíveis aos que não têm formação especializada na exegese estética da Arte e da Literatura. Recorre a conhecimentos linguísticos, a domínios próprios da Simbologia, Psicologia, Mitologia, Estética, da Sociologia e da Filosofia, descodifica às vezes fazendo uso de outros críticos consagrados; compara, escalpeliza, associa, ensaia, teoriza, dialectiza, conclui na parte ou no todo. Mas é sempre arrastado pela ficção, às vezes é quase tão ficcionista como o artista visado na análise artística. Nesta dialéctica, dão-se movimentos de ricochete, umas vezes o criticado fica espantado com o que o crítico descobre, aceita a análise, ou rejeita-a; outras, considera-o arguta e perspicaz, solidamente revestida. Também não é redundante dizer que crítico e criticado se entre-ajudam, se descobrem, pois não é só aquele que conhece a ferramenta da descodificação estética, mas o que acontece frequentemente é que este conhece igualmente as técnicas e os artifícios que se vão proporcionar à exegese.

Alguns, poucos os entendem, aos excelentes críticos. Não é por isso que deixam de ser sabedores. Não pode é dizer-se que são populares, ou que falam para o povo. Efectivamente podem ter a sua diferenciada opção político-filosófica, mas os que os entendem pertencem às classes instruídas, e circunscrevem-se no mercado leitor por uma pequena percentagem.

Não se pode pedir ao crítico quase ensaísta que desça do mundo galáctico, das nuvens oníricas, da música das emoções e da virtualidade para a análise de textos que nem são crónicas reais, nem são totalmente alegóricos. Andam por dentro sem se prenderem nem a estes nem àqueles, rondam dimensões que podem ser interpretadas por todos, vivem no fio da navalha, sujeitos a não agradar especialmente aos que se afastaram da realidade preferindo a maravilha da fantasia ou da utopia, essa que pode um dia tornar-se realidade gediana. Ou pode, tão só e também, ficar registada num anteprojecto eterno.

Efectivamente, não se pode dizer que são muito claros, os críticos da nossa praça. Revelam as suas preferências, as suas amizades, as suas cumplicidades (como eles confessam), não havendo mal nenhum nisso; gostar de dois ou três escritores e/ou de duas ou três escritoras é até saudável... às vezes mandam uns palpites bem formosos de linguagem, para quinze dias depois dizerem outra coisa, quase colidindo com a antes dita. Mas lá que formosa e bela é a sua linguagem, às vezes, quase só acessível a eles mesmos, pois engalanam-na com as citações mais desconcertantes e que enchem o olho de cultura surripiada aos estetas e ensaístas jubilados, lá isso é verdade, e por mais que se deseje e incite que saibam variar de discurso e referências, é só tempo perdido, porque os gostos são como tudo, o que é preciso é gostar de certa coisa, para não mais ser tentado por coisa diferente. Descendo ao escalão popular (pois quantas vezes para subir é preciso saber também descer de modo a atingirem-se equilíbrios necessários!), diríamos que o bacalhau nem sempre é bom, mesmo para quem o adora de todos os feitios. Os beirões dizem que é preciso variar, mas os beirões não são críticos, são um pouco diferentes dos citadinos, dado que ainda não foram encerados pelo maneirismo, nem pela sofisticação, nem pelo snobismo, não se agarram teimosamente a estereótipos, embora tenham também, como todos os mortais, as suas preferências

Apesar de todo este arrazoado, quiçá contraditoriamente em alguns aspectos aflorados sem se ter tomado ajuização final, reforçando alguma imagem que não foi suficientemente clara, diríamos que, como em todas as áreas espirituais, há níveis de compreensão abstractos na sua descodificação, neste caso: as áreas da linguagem e as do texto. O primeiro é o mais básico e situa-se a um nível inteiramente denotativo, quanto possível tradutor de uma realidade, ainda que ilusória, como é todo o materialismo, um segundo, aquele que o floreia, o embeleza em figuras de estilo, um pouco mais do que o retórico (que é utilizado no empolgamento discursivo), um terceiro o que catapulta a obra para o mundo da Simbologia intemporal, caracterizadora de uma época delimitada num vasto território, mas cuja essência é situável em todas as épocas nesse mesmo topo, isto é fala dum presente com as características de todo o sempre; reúne este assim todos os níveis anteriores, e acrescenta-lhe conteúdos culturais num espaço alargado, onde os mitos, os deuses da civilização procuram persistir, discorrendo sobre os defeitos e as virtudes que não são do seu tempo, nem só de hoje nem serão unicamente de amanhã ; e ainda existirá um quarto nível onde o mundo se translada para aquele que abarca toda a grandeza e miséria do planeta à escala intemporal, diacrónica e utópica (aqui significando sem lugar específico, porque global). Aí temos o lugar exacto onde o ensaísta mais sabedor se apraz e compraz na elaboração do seu estudo e na sua divulgação. A Grécia Antiga é sua mestra. Ela continua a ser a referência imprescindível da nossa civilização, e neste sentido expandida à escala universal.





http://armandofigueiredo.planetaclix.pt

Não são recomendáveis cortes nos textos.

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