Padeci por uma idéia fixa... Na verdade, não sei o que faço aqui, escrevendo este artigo. Vocês leitores, deviam ocupar-se em desvendar novos enigmas, ou então consagradas leituras. Pois, o que fazem aqui, lendo este artigo inútil? Não tenho nada a dizer, não tenho nada a acrescentar, nem mesmo a publicar, não devia, porém não deixei de faze-lo. Não quero elogios, apreços, nem congratulações. Nem quero que me fodam a paciência com comentários inúteis, os quais não vou ler. Aliás, se digo que não leio, é porque leio, e se não leio, é porque sou leigo. Tenho todo tempo do mundo para fazer o mínimo possível, e pretendo usufruir de tudo que não puder pagar, pois todo mundo tem sua idéia fixa. A minha foi que jamais voltaria a deixar de não ler alguma coisa. A partir desse momento, não pude evitar de abandonar qualquer livro em qualquer canto, sem ao menos abri-lo, lê-lo nem pensar... Eu devia estar feliz pela idéia fixa por mim concebida, mas voltei-me contra todos os indícios de minha estupidez e refiz minhas convicções partindo do ideal de que jamais voltaria a deixar de ler alguma coisa.
Concorri com meus princípios e reli o meu passado... Passei a manhã inteira ouvindo os autores de minha alma, e reconstruindo minhas influências. Senti um cheiro familiar dentro de cada personagem que reencontrava, pois, era o cheiro do mofo e da poeira dos livros. Eram tantos Brás Cubas, Bentinhos, Pollyannas, Moleques Jabutis, Meninos Maluquinhos, e misteriosos assassinatos num hotel de cinco estrelas. Revivi todas as antigas alusões de interpretação da minha infância. Corri pelos arbustos, pelos campos de futebol, pelas descidas íngremes do meu coração, pelas pistas de cross, pelas calçadas pavimentadas da minha alma. Foi por ali que passei jovem e inocente, pois, não sabia que na vida seria tudo de improviso e na última hora. Pois, se o soubesse não teria tido a pressa em crescer que tive, teria brincado mais com minha meninice. Teria dado chance a todas as brincadeiras e aos jogos, os quais tive receio um dia. Não teria participado das brincadeiras mais perigosas, que me machuquei, e que nunca mais brinquei.
Pois, mesmo sendo de borracha, e que toda criança é de borracha. Pois, eu também fui de borracha, mas se você torce demais a borracha, ela rebenta. Assim, minha idéia fixa foi transformando-se numa obceção de rejuvenecimento através da leitura diária. Foi então, que decidi comercializar minha descoberta na forma de um emplasto literário e rejuvenecedor; Bruno Freitas. A idéia transformou-se num monstro a atormentar-me pelos quatro cantos da casa, e circulava livremente pelas frestas da janela fechada, pelo vão da porta entreaberta, e pelo telhado carcomido e dissolvido na chuva forte. Mais que um emplasto, uma filosofia de vida, onde os valores morais e civís se encaixariam numa torrente de boas ações e medidas preventivas contra o envelhecimento astral. Foi aí que ocorreu minha ruína, pois, a concepção de tal idéia fixa tomou-me, todo e qualquer tempo. Pedri a razão, juntamente com todo tempo do mundo, mas não arejei minha idéia fixa, deixei-a apodrecer e voltei ao meu estado de pura hipocrisia. Pois, hoje, li o jornal de ontem, não fui no parque das minhas ilusões, li tudo que tinha pra ler, mas não escrevi nada aos que escrevem. Decidi deitar de novo com os olhos fechados e inúteis olhando para o telhado carcomido e dissolvido na chuva forte de outro dia.