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Artigos-->Não, Lula não está preparado para ser presidente -- 15/09/2002 - 10:38 (BELADONAIDIOTA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não, Lula não está preparado para ser presidente

08/09/2002 J.R. Guzzo



É uma questão complicada, que está presente desde o início da disputa eleitoral e pode vir a ser um dos pontos quentes na fase final da campanha: o candidato favorito até agora, Luiz Inácio Lula da Silva, está ou não preparado para ser presidente da República? É o tipo da coisa chata de ficar discutindo, porque a pergunta parece ofensiva, ou, como o próprio Lula nunca deixa de dizer, só é feita por "preconceito" -- e quem é que gosta de aparecer no papel de preconceituoso? Mas, por mais que se evite a questão, ela continua aí, e continua aí porque existe na vida real, ou seja, na cabeça do eleitor. Além do mais, os adversários do candidato petista vão se encarregar, com certeza, de aproveitar todas as oportunidades que tiverem para trazê-la ao debate. Podem substituir a palavra "preparo" por "experiência", para disfarçar um pouco, mas o que estarão querendo dizer é exatamente a mesma coisa.



A resposta mais objetiva, diante dos fatos disponíveis para se fazer um julgamento, é: não, Lula não está preparado para ser presidente do Brasil. Sempre pegaria melhor, é claro, ficar enrolando o assunto com indagações metafísicas. O que quer dizer, em sua essência, a palavra "preparado"? Qual seria a verdadeira natureza do cargo de presidente? A pergunta comportaria uma resposta do tipo "sim" ou "não", considerando-se a complexidade de sua dimensão? Mas ganha-se muito em tempo e em clareza com uma abordagem fundamentada no bom senso básico. E o bom senso diz que Lula não está preparado porque não tem o conjunto de conhecimentos que, segundo o entendimento comum e a experiência acumulada ao longo da história, um cidadão precisa ter para exercer o cargo de presidente de uma nação com 170 milhões de habitantes e com todos os problemas que o Brasil tem.



O candidato do PT diz, e tem dito desde a primeira de suas quatro campanhas presidenciais, que só se questiona o seu preparo porque ele teve uma origem pobre. E José Serra? O pai do tucano tinha uma banca de frutas no mercado municipal de São Paulo, o que sem dúvida pode ser melhor do que a condição de retirante, mas só um completo disparate levaria alguém a sustentar que ele era rico ou vinha das "elites". Como Serra, por sinal, dezenas ou centenas de políticos brasileiros têm origem modesta. A questão é outra. Lula está despreparado para a presidência não por ter sido pobre, mas por não ter aprendido o que qualquer cidadão precisa aprender para pleitear um cargo desse tamanho. Não aprendeu por opção própria. O candidato do PT teve a seu dispor os últimos 20 anos -- tempo suficiente para se formar em três ou quatro cursos de qualquer coisa, ou para ser prefeito de alguma cidade grande, ou governador de estado, e por aí afora. Mas sempre achou que não era preciso.



Lula diz que não encontrou, nesse tempo, "nenhuma universidade capaz de formar presidentes da República". Essa escola não existe mesmo, em lugar nenhum, mas não é razão para alguém desinteressar-se de adquirir, por outros meios, toda uma série de conhecimentos específicos para o bom desempenho do cargo número 1 da vida nacional. Onde está o preconceito de que tanto se fala? Tudo bem, Lula não está preparado para exercer a presidência - e qual é o problema em dizer isso? A maioria absoluta das outras pessoas (incluindo, com quase certeza, 100% dos jornalistas) também não está. Como dezenas de milhões de brasileiros, Lula não tem condições para ser neurocirurgião, pilotar aviões a jato ou escalar o Everest. Não existe nenhuma vergonha nisso. O problema não está em alguém ser despreparado para a presidência; está em ser despreparado e ainda assim querer a presidência. É isso - e só isso.



O candidato do PT sustenta que muitos outros, mais preparados que ele, deram errado no cargo. Está certíssimo. Jânio Quadros era professor de português, José Sarney leu um caminhão de livros e João Figueiredo sabia resolver equações de segundo grau. acabaram, os três, na lista dos piores presidentes que o Brasil já teve. Nesta eleição, por exemplo, Ciro Gomes tem mais preparo formal que Lula. Ao mesmo tempo, vem deixando claro que também tem todas as qualidades necessárias para fazer um péssimo governo. O que esperar de um candidato que alega fazer uma campanha "sem insultos", mas chama o presidente Fernando Henrique de "ser desprezível", seus colaboradores de "vermes" e quem não quiser votar nele de "otários"? Como achar normal que tenha qualificado o ex-senador Antonio Carlos Magalhães de "mais sujo que pau de galinheiro" e hoje lhe beije a mão em público?



Exposto ao questionamento da imprensa, Ciro demonstra uma aptidão cada vez menor para conviver com as regras do jogo democrático: os jornalistas que lhe fazem perguntas incômodas são, automaticamente, acusados por ele de "estar a serviço de José Serra". Numa recente aparição no Jornal da Globo, em que os jornalistas Franklin Martins e Ana Paula Padrão mostraram um desempenho profissional de primeiríssima qualidade em sua série de entrevistas com os candidatos, Ciro queixou-se de estar diante de um "tribunal de inquisição". Até pouco tempo atrás, achava perfeitamente normal que seu ex-coordenador de campanha, José Carlos Martinez, sob investigação do Ministério Público, tivesse recebido dinheiro de Paulo César Farias, por intermédio de titulares de "contas-fantasmas". Dizia que eram transações "privadas" entre "pessoas privadas" -- e, portanto, ninguém tinha nada a ver com isso. Ciro, enfim, parece mordido pelo vício de pescar em águas turvas, tão comum na velha política brasileira, ao ficar acenando com obscuras idéias de mudar regras do processo democrático inscritas na Constituição.



Tudo isso, no fim das contas, pode ser bem pior na qualificação de um candidato do que o fato de se ter poucos anos de escola. A complicação, no caso de Lula, é que as falhas e deficiências dos adversários não mudam a realidade do seu despreparo, que continua exatamente do mesmo tamanho. Evidentemente, sustentar que Lula não pode ser presidente da República pela falta de estudos é uma bobagem. Claro que pode, mesmo porque quem escolhe o presidente não é uma banca examinadora composta por sábios, e sim a maioria dos eleitores brasileiros. Lech Walesa, operário como ele, não foi eleito presidente da Polônia? Presidiu mal, segundo o julgamento mais comum que se faz do seu governo, mas foi ele que os poloneses escolheram. Ficar lamentando que as coisas sejam assim não adianta nada. Na melhor das hipóteses, é pura perda de tempo. Na pior, é jogar água no moinho de quem acha que "eleição não resolve".



Lula, obviamente, tem todo o direito de tentar convencer o eleitor de que não existe na disputa ninguém melhor do que ele para presidir o país a partir de janeiro próximo. Só não dá para acreditar que o candidato do PT seja alguém que não é.

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